Holandês, dos Países Baixos
Agora desatou tudo a escrever e a dizer "Países Baixos" - horrorosa expressão - para designar o que anteriormente se designava por Holanda. Duas palavras, somando 12 letras, em substituição de uma só com sete.
A coisa foi tão célere que até o alegado "dicionário" Priberam se apressou a alterar a definição: agora Holanda não é nome de país, como sempre supusemos, mas mera "região dos Países Baixos" - além de "tecido fino de linho" e "papel espesso" (!).
Como sempre acontece, logo surgem os mais papistas que o papa: reescrevem a História normalizando pelo padrão actual tudo quanto ficou para trás. Como se lê neste texto da página oficial da UEFA, em que o Checoslováquia-Holanda, jogo de abertura do Europeu de 1976, é agora denominado "Checoslováquia-Países Baixos". Deixaram metade da cosmética retroactiva por fazer: se rebaptizaram a Holanda, deviam ter rebaptizado também a actual República Checa, mesmo quando não se designava assim, para mantar o critério.
Não tardará muito para que livros como A Holanda (1885), de Ramalho Ortigão, ou A Amante Holandesa (2003), de Rentes de Carvalho, sejam rebaptizados também, por imposição da novilíngua.
Não sei o que me deixa mais perplexo. Se esta mania tão contemporânea de complicar o que é simples e alterar o que vem de longe, se a repetição mecânica da novidade em piloto automático, com todos a evitarem parecer fora de moda.
Procuro no inefável Priberam se já inventaram gentílico alternativo ao tradicional holandês. Parece que não: nem rasto de "paisesbaixenses", "paisesbaixeses" ou "paisesbaixanos". Conclusão: deixou de dizer-se Holanda, mas continua a haver holandeses - e nada mais que holandeses - nos denominados Países Baixos.
Avisem-me, por favor, quando a coisa mudar de novo.