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Delito de Opinião

Hoje é dia de

Maria Dulce Fernandes, 12.06.22

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A 12 de Junho celebra-se O Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil 

"O Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil é celebrado anualmente, sob a égide da Organização Internacional do Trabalho.

Este dia procura abordar as questões relacionadas com o trabalho infantil e desenvolver acções para eliminá-lo. Cerca de 218 milhões de crianças trabalham no mundo, muitas delas a tempo inteiro, estando envolvidas em actividades perigosas que comprometem o seu desenvolvimento físico, mental, social e educacional. 

O tema deste ano é «Protecção Social Universal para Acabar com o Trabalho Infantil», apelando ao reforço do investimento em sistemas de protecção social para combater o trabalho infantil."

Era uma vez um menino, terceiro filho de quatro de uma família de rendeiros, que trabalhava de sol a sol. Levantava-se de noite para ajudar ao gado, ia à igreja, depois à escola e voltava para ajudar no que fosse preciso, muitas vezes apenas com leite e pão seco no bucho até a mãe regressar dos campos, quantas delas já o lusco-fusco anunciava a partida do sol. Vinte anos após a Segunda Grande Guerra a vida não era fácil na aldeia. O irmão mais velho já tinha vindo para Lisboa e não tardou que o nosso rapaz tomasse a mesma senda, pois já completara doze anos. Pela primeira vez tinha sapatos! Já vira homens na missa com sapatos calçados, mas na casa dos pais as crianças sempre usaram socas de madeira. Não achou os tais sapatos nem um pouco confortáveis, mas tinha de ter sapatos em Lisboa, por isso aproveitou para dizer ao pai que as lágrimas que lhe corriam pela cara, quando ele o deixou sozinho no comboio para a capital, eram devidas ás dores nos pés provocadas pelos tais sapatos.

O irmão e o tio esperavam-no. Tomaram o eléctrico para Belém e deixaram-no entregue a um casal, dono de uma mercearia na Rua de Pedrouços. Era ali que iria trabalhar. Tinha que se levantar com o galo, comer o pão e o café pegar no livrinho e no lápis e ir, Avenida da Torre de Belém acima, Restelo adentro, tirar os pedidos diários nas  lautas moradias das senhoras. Depois de ter o livrinho completo, regressava à mercearia, preparava o que trazia no rol, punha tudo num cabaz e lá partia ele, cabaz às costas, fizesse chuva ou sol.

Durante seis anos foi a sua vida. Tinha um dia por semana para ir à missa e passear, gostava do patrão e da comida da patroa. Tinha roupa nova que ia pagando do seu ordenado. Era bem parecido e simpático. Uma das clientes que o encontrou num dia de entrega na porta de serviço perguntou-lhe se tinha estudos. Só o básico, respondeu. E ficou a matutar na ideia de tal modo que procurou outro emprego e foi estudar à noite.

Saiu-se bem, tomou-lhe o gosto e continuou sempre no caminho do conhecimento, passando as noites no ensino pós-laboral e à roda dos livros. Veio a liberdade. Todos eram socialistas, era esse o caminho dele, mas foi assim que aconteceu o rapaz ir a uma reunião da célula do partido, que funcionava no pátio, mesmo ao lado da Junta de Freguesia de Santa Maria de Belém. Foi lá que o conheci.

Esta história de trabalho infantil teve um final feliz. 

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