Hoje é dia de
Dia 8 de Abril comemora-se o Dia Internacional do Cigano.
Dia Internacional do Cigano
"O objectivo deste dia é comemorar a cultura e a história do povo cigano, lutando para o seu reconhecimento e contra o preconceito e a discriminação sentida por essa comunidade.
Neste dia realizam-se actividades em Portugal, como exposições de fotografia sobre a cultura cigana e tertúlias sobre a sua integração."
Chamava-se João mas chamávamos-lhe Sapo. Ele não se incomodava, era um miúdo feinho, desgrenhado e franzino de cerca de sete anos, sem dentes nem superstições. Era engraçado. Convencemos a mãe, viúva (que lhe vergastava as traquinices nas costas com um cabo de vassoura que doía só de ouvir), a deixá-lo ir à escola.
Comprámos-lhe uma mala, cadernos, lápis e tudo o que um lente de primeira viagem necessitaria para se aplicar nos estudos. Todos os dias nos mostrava os progressos. Creio que acabou a quarta classe, ano sim, ano assim assim, ano não, mas sabia escrever o nome e ler o jornal.
Uma tarde tínhamos uma reportagem com Rui Paes, um conhecido desenhista português, que tinha sido escolhido para ilustrar “Pipas de Massa”, salvo erro o segundo livro infantil escrito por Madonna. Sempre a cirandar por ali e desejoso de se fazer notar pela câmara, o Sapo, digno representante das minorias desfavorecidas, teve os seus 15 minutos de fama e ganhou um livro pré-autografado pela Madonna e ali mesmo pelo Rui Paes.
Isso não o salvou da surra à vassourada que a mãe que o procurava fazia horas lhe ministrou.
Passados dias, o "Pipas de Massa" voava feito em pedaços tristes ao sabor do vento daquela tarde de Outono. Disse que foi a mãe e encolheu os ombros, mas os riscos mais claros na cara suja diziam muito.
A família teve que mudar-se para uma habitação num bairro social e viamo-lo muito pouco. Soube que casou porque nos foi visitar com um buço mal semeado, uma barbichazinha e uma piquena bonitinha e muito grávida. Faziam a volta das feiras.
Passou muito tempo, não sei precisar quanto.
Há dias pedi um TVDE. O motorista olhou para mim com a mesma boca grande e desdentada completamente escancarada, “então minha senhora, vai para Belém?” Era o Sapo. Mais enrugado, mais curvado, mais branco nas cãs, mas sempre sorridente. Com sete filhos e quatro netos.
Tinha saudades nossas, mas tinha os meninos com a avó e não podia largar o carro, sorria feliz. O Sapo avô!
Que Deus lhe dê muita saúde e sorte!
Fotos Google