Hoje as fronteiras da liberdade estão na Moldávia
Ando há alguns dias a alinhavar um texto sobre o conflito entre o autoritarismo e a pulsão intrínseca do ser humano para a liberdade. O tempo disponível ainda não mo permitiu dar por terminado, até porque há sempre um outro ângulo que pode ser acrescentado.
Foi com a mente nesta temática que no final do no Domingo passado li as primeiras notícias sobre os resultados do referendo realizado na Moldávia. Em simultâneo com a eleição presidencial, os moldavos iriam escolher se aceitavam que a sua constituição fosse alterada de forma a permitir a sua futura adesão à UE. As primeiras notícias não eram animadoras. A massiva operação de condicionamento, ameaça e compra de até 300.000 votos por parte dos capangas de Putin fez com que até ontem de manhã os números apurados lhes fossem favoráveis. Foi apenas após a contagem dos votos dos moldavos que residem fora do país, que se deu a reviravolta. Os resultados finais dão uma ténue vantagem à adesão (50,4%), mas suficiente para constituir mais uma derrota de Moscovo.
Já aqui escrevi sobre a minha visita à Transnístria, região moldava que não é controlada pelas autoridades de Chisinau, mas sim por uma elite ex-soviética que ali se mantém com o apoio da Rússia. Como vimos durante a invasão em curso à Ucrânia, caso Odessa tivesse sido conquistada, a Transnístria seria uma plataforma para fechar o cerco por ocidente, impedindo assim o seu acesso ao Mar Negro.
Além da Transnístria, a Moldávia tem ainda outra região autónoma, a Gagaúzia, de maioria turca, que não facilita a tarefa aos governantes deste, que é o mais pobre país europeu.
A actual Presidente Maia Sandu, que tem sido a face da aproximação da Moldávia ao mundo livre, apresentou-se novamente a eleições, tendo conseguido 42,3% dos votos, o que a obriga a uma segunda volta dentro de duas semanas.
Uma geração depois da queda da Cortina de Ferro, que permitiu a milhões de europeus alcançarem a liberdade e a prosperidade, a Moldávia ficou quase esquecida numa indefinição cinzenta condicionada pelos sabujos de Putin que não aceitavam abrir mão de controlar um país cujos cidadãos têm o direito a aspirar a um futuro melhor. Há momentos históricos em que os povos conseguem mudar o seu rumo para um melhor destino. Hoje as fronteiras da liberdade estão na Moldávia e o rosto das forças livres é o de Maia Sandu, verdadeira heroína, que com ilusória aparência de fragilidade tem governado o país sempre sobre a ameaça de uma iminente invasão russa. Só daqui a duas semanas saberemos se conseguirá ser eleita para o segundo mandato, mas o que aconteceu neste Domingo merece ser festejado.