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Delito de Opinião

Helena Sacadura Cabral: «Não tenho nenhuma vocação para ser masoquista»

Quem fala assim... (40)

Pedro Correia, 15.05.21

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«O meu maior sonho é ver os meus netos crescidos e com uma vida profissional que nada tenha a ver com a política»

 

Economista de profissão, escritora por vocação, excelente contadora de histórias, Helena Sacadura Cabral não tem dúvidas: «A política estraga as pessoas.» É um dos raros temas que lhe ensombra o humor. Mas felizmente não faltam outros motivos de conversa. Esta entrevista, ao telefone, foi pontuada por várias gargalhadas - de parte a parte. Muito antes de nos tratarmos por tu e de ela figurar como autora do DELITO.

 

Qual foi a maior decepção que sofreu até hoje?

Os meus filhos [Miguel e Paulo Portas] terem ido para a política. Estava a ver um como um brilhante advogado e outro como um brilhante gestor...

Gostaria de viver num hotel?

Não desgostava. Mas depende do hotel: de cavalo para burro, não - até porque a minha casa é boa.

A sua bebida preferida?

Água.

Que número calça?

No Verão, 37,5. No Inverno, 37.

Que livro anda a ler?

Ando a ler o último livro do Miguel Sousa Tavares, Rio das Flores.

E que tal?

Já li cerca de um terço. Por enquanto estou a gostar.

Se não gostasse, já teria desistido?

Já. Quando não tenho vontade de continuar ao fim de vinte folhas, não continuo mesmo. Não tenho nenhuma vocação para ser masoquista.

A sua personagem de ficção favorita?

O Super-Homem. E, noutro género, o Astérix. Uma criatura anormal, outra normalíssima.

Gosta mais de conduzir ou de ser conduzida?

Gosto muito mais de ser conduzida. Já cheguei a uma idade em que reservo o esforço físico e mental só para questões verdadeiramente importantes.

É bom transgredir os limites?

Desde que, ao transgredir os limites, eu não caia no poço. Prefiro chegar perto da transgressão: assim evito consequências fatais.

Qual é o seu prato favorito?

Cozido à portuguesa. De preferência em tascas. Também não tenho vocação nenhuma para o finório em que se paga de mais...

Qual é o pecado capital que pratica com mais frequência?

Na minha idade, a gula.

A sua cor preferida?

O castanho: é uma cor contida, austera.

Associa-se ao Outono...

Gosto muito do Outono. E também gosto do vermelho.

Costuma cantar no duche?

Gostava de cantar. Mas o meu grau de desafinação é tão grande que se cantasse teria de acabar o duche mais cedo.

E a música da sua vida?

My Way, na voz do Sinatra.

Sugere alguma alteração ao hino nacional?

Não. Aí sou tradicionalíssima. Deixo esse trabalho para o António Alçada Baptista [escritor falecido em 7 de Dezembro de 2008].

Com que figura pública gostaria de jantar esta noite?

Com nenhuma! A minha aversão às figuras públicas é total.

As aparências iludem?

Oh, se iludem! Hoje não se leva nada autêntico para casa...

Qual é a peça de vestuário que prefere?

Tudo o que seja lingerie.

Qual é o seu maior sonho?

Gostaria de ver os meus netos crescidos e com uma vida profissional que nada tivesse a ver com a política.

E o maior pesadelo?

É ligar a televisão todos os dias e ouvir os telejornais. Não há nenhum filme cujo guião consiga ultrapassar esta nossa realidade.

O que faria se fosse milionária?

Já sou milionária. Não de dinheiro, mas de afectos, por exemplo. Se fosse milionária de dinheiro, contratava um motorista para me levar onde eu quisesse.

Casamentos gay: de acordo?

Tanto me faz. Os heterossexuais estão a descasar-se cada vez mais. Se os gays querem casar-se, então que casem.

Um homem bonito na política?

Gostava do Bernard Kouchner. Mas meteu-se na política e envelheceu mal. A política estraga as pessoas.

Acredita no paraíso?

Acredito. Quem vive no inferno não pode deixar de acreditar no paraíso.

Tem um lema?

Não tenho um lema. Mas há um princípio que me rege: «Vive e deixa viver.»

 

Entrevista publicada no Diário de Notícias (8 de Março de 2008)

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