Havana? Caracas? Não: Lisboa
Parecia que passara por ali uma manada de bisontes. Ou que me via teletransportado para um "armazém do povo" em Cuba ou na Venezuela. Mas não: são imagens de um hipermercado num bairro residencial em Lisboa, captadas ontem, por volta das 11.30. A desenfreada corrida às grandes superfícies, como se estivéssemos na iminência de um bombardeamento aéreo, deixou neste estado as caixas e prateleiras do Continente em Alvalade.
A população que adere com generosidade a iniciativas altruístas, como o Banco Alimentar Contra a Fome, é a mesma que vem revelando o mais desprezível comportamento, mal surgiram os primeiros temores e rumores relacionados com o coronavírus. Açambarcando o mais possível, comprando aquilo de que não necessita, acumulando víveres e produtos de higiene que ficarão esquecidos em armários e prateleiras lá de casa, usando a pandemia como pretexto para o consumismo mais obsceno e execrável.
Passei por lá e vi: os maiores estragos foram feitos nas zonas dos enlatados, cereais, bebidas, detergentes, iogurtes, rações para animais. Mas também nos frescos, sobretudo ao nível das frutas e legumes - bens perecíveis, não fazendo o menor sentido que sejam açambarcados.
Esta gente está mesmo a pedir a imposição de limites máximos de aquisição de bens por via administrativa. Ou, no limite, implora por senhas de racionamento - como aconteceu em Portugal, quando a Europa quase inteira estava mergulhada no pesadelo da II Guerra Mundial e os circuitos de abastecimento haviam sido torpedeados.
Mereciam viver em Havana. Ou em Caracas.