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Delito de Opinião

Gronelândia, Canadá e Panamá

Paulo Sousa, 11.01.25

Trump comporta-se tal e qual, mas mesmo tal e qual, como um grunho boçal. As parecenças são tão grandes que é fácil concluir que muito provavelmente será realmente um grunho boçal.

Com os anos que já levo disto, já me cruzei com outros grunhos boçais bem sucedidos. Digo isto salvaguardo a óbvia diferenças da escala de comparação entre uns empresários/proprietários tugas e um empresário/proprietário norte-americano que mais tarde se tornou Presidente dos EUA. Mas um grunho boçal, independentemente da respectiva escala, nunca deixará de ser grunho boçal.

Por vir a propósito, remeto nesta altura ao excerto da maravilhosa canção “O Desafinado" de João Gilberto, em que ele diz: “o que você não sabe nem sequer pressente, é que os desafinados também têm coração”. Não trago isto à conversa por me preocupar minimamente com os assuntos de coração do presidente de turno dos EUA, mas aceito que mesmo um grunho boçal pode saber mexer-se numa mesa de negociações.

A velha ordem liberal, que desde o fim da 2GM nos trouxe até à actualidade, está realmente velha. Desde há algum tempo que potências suficientemente poderosas apostam todas as fichas em acabar com ela para depois redesenhar as novas regras do jogo. Os EUA, enquanto lideres da velha ordem, poderiam reagir a esta ofensiva de duas formas, ou recorriam às regras ainda em vigor, assentes no direito internacional, algo que as potências desafiadoras pouco consideram, ou poderiam ir a jogo e mostrar que se a parada subir têm algo a dizer.

Podemos resumir o mandato de Biden, que entretanto termina, como uma tentativa de pôr em prática a primeira opção. Os resultados nem foram satisfatórios para o mundo, nem dissuasores para as potências desafiadoras. Como é que então se poderia concretizar a segunda?

A China ambiciona dominar Taiwan, e a Rússia quer a Crimeia e o Donbass, então e se os EUA passarem a dominar o Árctico, o acesso deste até ao Atlântico, as terras raras do subsolo da Gronelândia e o atalho navegável entre as duas Américas? Como disse, à luz da velha ordem este não é um cenário razoável, mas, e aqui lanço o desafio de nos colocarmos nos pés das potências desafiantes, será que valerá mesmo a pena avançar para um jogo em que se troca uma pequena ilha, uma província ucraniana e uma península de um mar interior, por uma mão cheia ases e manilhas de naipes valentes? Não duvido que nesta altura do jogo a última coisa que as potências desafiadoras desejavam era terem de defrontar um jogador imprevisível com fama de não recear paradas altas. A grunhice e a boçalidade são dois passarinhos a voar no canto da fotografia.

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