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Delito de Opinião

Granadeiro, o Justo

Rui Rocha, 08.08.14

Na Atenas berço da democracia, Aristides, herói a quem coube a organização da Liga de Delos e a definição da estratégia na batalha de Maratona, mereceu o cognome de Justo. Mas nem isso impediu que, nas voltas da polis grega, o seu nome fosse discutido na assembleia anual em que os cidadãos votavam os políticos que, por perigosos, deviam ser condenados ao ostracismo. Conta Plutarco que nessa reunião um camponês se aproximou do próprio Justo, não sabendo quem ele era, e lhe pediu para inscrever o nome Aristides na telha destinada a registar o nome dos que deviam ser ostracizados, pois que não sabia escrever. Surpreendido, o Justo perguntou ao camponês que mal lhe fizera o tal Aristides, ao que o camponês respondeu que nada, que nem o conhecia, mas que estava farto de que todos lhe chamassem Justo. Aristides, sem mais perguntas, escreveu o seu nome na telha, juntando assim, pelo seu punho, mais um voto à própria condenação. A carta de Granadeiro é a telha de Arisitides, o voto de um Justo que se condena a si próprio à demissão ainda que nada lhe pese, ainda que nenhum facto praticado possa perturbar a natureza pacata da sua consciência. Como Aristides, que enquanto se afastava de Atenas ia rezando aos Deuses para que fossem benévolos com o futuro da Grécia, Granadeiro, o Justo, agiu sempre, apesar dos actos de terceiros, no melhor interesse da Portugal Telecom, dos seus colaboradores e de todos os accionistas. Assim sendo, como é, o Justo Granadeiro merece da PT e desta nossa pátria, que no fundo são uma e a mesma coisa, aquela a insígnia e esta o desígnio, tratamento idêntico ao que era reservado aos gregos ostracizados: respeito por todos os seus bens e propriedades durante a ausência de funções de Chairman e outras brincadeiras. Que a democracia grega era primitiva mas já então não era primária. Granadeiro, o Justo, não pode esperar menos e, se este ainda for o país que sempre foi, não deve ter menos. Se dúvidas houvesse, aí estariam sempre novecentos milhões de moedas de euro a dar testemunho e garantia.

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