Gentinha cinzenta
Raramente têm uma voz afirmativa. Nunca se atreveriam ir contra um qualquer mandante e o respectivo sucesso reside em se conseguirem aproximar de quem aprecie ser bajulado, de lhe ganhar a confiança e, depois disso, caninamente sempre surgir como que aparafusado ao respectivo ombro direito. O que nos grupos de forcados é reservado ao primeira ajuda e na marinharia ao imediato, em algumas organizações, e na política, é deixado para estes emplastros.
Desde que já tenham ouvido a opinião do respectivo mentor, conseguem discorrer sobre qualquer assunto. Depois disso, não vacilam em argumentar e defender o ponto de vista que importa. Quanto mais capazes sejam de o fazer, mais reforços positivos recebem. Reforço positivo é, aliás, uma expressão frequente entre quem se dedica a ensinar habilidades aos cães.
A fé desta gente, os seus princípios, os seus propósitos, assentam na lógica gravitacional da atracção dos corpos celestes. Nunca irem além de ser um reles satélite da vontade de terceiros é a sua sina, que aceitam com grata felicidade.
Se essa for a conveniência do epicentro da respectiva existência, um dia podem ter de ser largados para o seu primeiro voo. E essa é a hora em que a sua natureza é revelada ao mundo. Os que não pertencem ao grupo da “gentinha cinzenta”, seguem viagem e ganham vida própria. Os demais juntam-se aos passarinhos que morrem esbardalhados no sopé dos seus ninhos. E ali ficam, entre penas avulsas e despenteadas e alguns pequenos cocós secos.
Depois da requintada pulhice que, aquando da revelação do caso Russiagate, Fernando Medida fez, ao sacrificar um qualquer funcionário camarário, só os seus emplastros (sim, até as pulgas têm parasitas) é que insistiam em acreditar no seu potencial político.
Nada disto é novidade. A multa a que a Câmara Municipal de Lisboa foi agora condenada a pagar serviu apenas para refrescar as nossas memórias.
Depois de ter sido confrontado com o feito, a besta, por absoluta falta de senso, ainda afirmou que “o aproveitamento político é evidente”.