Galamba: o naufrágio anunciado
Foto: Miguel A. Lopes / Lusa
«Tenho todas as condições para participar neste governo.»
João Galamba, 29 de Abril
«Tinha, tenho e terei todas as condições, continuo a fazer o meu trabalho.»
João Galamba, 16 de Maio
«Não, não tenciono demitir-me.»
João Galamba, 10 de Novembro
O mais inapresentável dos ministros do quase extinto governo Costa pediu ontem a demissão. Três dias depois de João Galamba ter garantido, na sala das sessões da Assembleia da República, que tal ideia nem lhe passava pela cabeça. Por aqui se vê a solidez das convicções deste fervoroso marxista (tendência Groucho).
A demissão, desta vez, foi aceite - senão mesmo instigada - pelo primeiro-ministro resignatário. Seis meses depois de António Costa, numa das mais patéticas opções que alguma vez assumiu ao leme do Governo, ter decidido amarrar o seu destino político ao do desatinado titular das Infraestruturas. Comprando assim um inútil conflito com o inquilino do Palácio de Belém.
O Presidente da República, que já nem podia ouvir falar em tal emplastro, apressou-se a exonerá-lo. Reforçando certamente a sua convicção de que a vingança se torna um prato mais saboroso quando é servido frio, como neste caso aconteceu.
Se me permitem, aproveito o balanço para recordar alguns textos que fui aqui publicando sobre o agora exonerado, que sai sem deixar saudades.
Os acontecimentos posteriores acabaram por me dar razão.
A TAP é o maior partido da oposição (3 de Maio): «Naturalmente, agora que a guerra entre Belém e São Bento deflagrou, Marcelo Rebelo de Sousa não fará a vontade a António Costa: vai dissolver, sim, mas apenas no momento em que entender. Que será, não por coincidência, quando der menos jeito ao primeiro-ministro. (...) Costa pagará com juros a sua bravata de ontem, comportando-se perante os portugueses como se comesse Marcelo de cebolada a pretexto de segurar in extremis um dos ministros mais desacreditados do actual elenco, algo tão desproporcionado que soa a falso desde o primeiro minuto.»
Contributos de Belém para o epitáfio político do quase ex-ministro Galamba (5 de Maio): «O discurso mais duro que recordo de um Chefe do Estado em Portugal desde Novembro de 2004, quando Jorge Sampaio anunciou a dissolução da Assembleia da República, pondo fim ao executivo de Santana Lopes.»
Difamação (15 de Maio): «Galamba imaginou-se por momentos na pele de Donald Trump no reality show televisivo The Apprentice, em que berrava no fim "You're fired!" Acontece que em Portugal é diferente. Ninguém perde o vínculo laboral só porque um patrão berra "Estás despedido!". Muito menos no Governo. Muito menos num governo cheio de "sensibilidade social" que acaba de aprovar uma pomposa "agenda do trabalho digno".»
"Opera buffa" (18 de Maio): «Nada tão grave, em toda esta série de rocambolescos episódios que têm como protagonista o inimitável João Galamba, como confirmar que os serviços de informações da República Portuguesa agem como guarda pretoriana do Governo. Podia ser apenas uma questão de abuso do poder socialista, mas é mais do que isso: tornou-se uma questão de regime. De irregular funcionamento das instituições. Isto já não é um governo: é uma opera buffa. Com final anunciado.»
Nave de loucos (19 de Maio): «A impreparação, a imaturidade e a irresponsabilidade do ainda ministro transformaram este governo numa nave de loucos.»