Fumo nos olhos
Falar nos casos do cinema francês (ou mundial) onde as personagens surgem de cigarro na mão ou na boca duplicaria o número de palavras usadas historicamente neste blogue. Explicar que nalguns casos não faria sentido não mostrar o cigarro (como com biografias) seria extenuante. Apontar que em certas situações o cigarro faz parte da caracterização da personagem seria uma perda de tempo.
Note-se que não sou um fumador, nunca fui um fumador e nunca dei sequer uma passa que fosse em toda a minha vida. Obrigava os meus pais a abrir as janelas do carro ou da sala sempre que começavam a fumar, estivesse sol ou chuva, calor ou frio. Fui também um entusiástico apoiante das medidas que restringiam o uso do tabaco em espaços públicos. Sou da opinião que se o tabaco desaparecesse da face do planeta, só haveria benefícios e nenhum prejuízo (embora saiba que isso é impossível).
Banir o tabaco dos filmes no futuro faz pouco sentido. Limitar a exposição de filmes antigos que exibem tabaco é ridículo e colocar uma classificação etária superior num filme que mostre personagens a fumar é simplesmente idiótico. Alguns dos comentários neste artigo do The Guardian explicam tudo, mas gosto particularmente da comparação com a violência. Se filmes com violência (mesmo que muito "leve") não levam com tais excomunhões, por que razão cair sobre o tabaco? Levar a campanhas para remoção do tabaco em filmes futuros onde tal não seja necessário (tratando-o como a nudez: se não oferece nada, não faz sentido) já faria algum sentido.
O fumo do tabaco é irritante e - para mim - detestável. Mas pertence à história da humanidade e é parte da cultura. Tentar bani-lo dos nossos filmes teria tanto sentido como lançar fumo para os olhos...