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Delito de Opinião

Frente fria de esquerda

José António Abreu, 08.10.15

Afinal, António Costa não apenas está muito longe de constituir o Salvador da Pátria anunciado com trombetas e panegíricos pelos seus apoiantes como se revela muito pior do que os seus adversários afirmavam. Entende-se o motivo por que se agarra à liderança do PS - para onde iria, abandonada a Câmara de Lisboa e a hipótese de uma candidatura às presidenciais? - mas não é bonito ver alguém tão desesperado por manter a relevância após uma derrota clara, ainda por cima tendo forçado a saída do líder anterior com o argumento de que este ganhava «por poucochinho». Evidentemente, os estados de alma de Costa seriam um detalhe irrelevante, um momento de reality show merecedor da mescla de pena e desprezo com que se encaram os mini-dramas do Big Brother ou da Casa dos Segredos, não fosse apesar de tudo o PS essencial ao sistema político português - em qualquer instante e em particular num cenário como o resultante das eleições do passado domingo (a que acresce a fragilidade da situação económica). Mas Costa parece considerar mesmo a hipótese de vir a liderar um governo formado por Partido Socialista, Bloco de Esquerda e Partido Comunista. Tratar-se-ia, como qualquer pessoa com dois dedos de testa percebe, de um governo colado a cuspo: que entendimento seria de esperar entre os três partidos nos assuntos europeus, na resposta aos compromissos assumidos junto da NATO ou mesmo perante as reivindicações da CGTP? Na verdade, a «solução» apresenta tais possibilidades burlescas que quase me fazem desejá-la. Mas convém manter algum bom senso. Seria um desastre para o país. E também para o PS. Se, em 2011, PSD e CDS obtiveram 50% dos votos, nas próximas eleições atingiriam 55% ou 60%. E o PS desceria para cerca de 20%. Haja alguém por lá que meta juízo na cabeça do homem.

 

 

Nota sobre o título: a frente é fria porque me provoca um arrepiozinho - entre o horror e o prazer mórbido.

3 comentários

  • Está a dizer que Costa age desta forma porque ficou chateado com Cavaco? Não seria uma explicação mais digna para ele do que estar a fazê-lo para manter o lugar, dando esperança a uns quantos iludidos no PS de ainda poderem chegar ao poder. (Quero acreditar que Costa não acredita mesmo poder assumir o lugar de primeiro-ministro de um governo PS/PC/BE, porque isso entraria já nos domínios da patologia.)
    Mal por mal, que esteja a tentar ganhar força negocial junto da coligação.
  • Sem imagem de perfil

    Vento 08.10.2015

    Quem não fica chateado com uma atitude deste tipo por parte de Cavaco? O único elemento agregador, como referi há muito, neste parlamento é o PS.

    O que o JAA não quer ver é que o parlamento deixou de ser uma coutada maioritária e deixou de se submeter aos ditames do PR.
    Não é isto que dizem ser a democracia? Que o assento no parlamento define a vontade popular, incluindo a dos abstencionistas que por não votarem aceitam qualquer coisa?
    Só que o PR não compreende que a República não se circunscreve a um alinhamento e/ou filiação partidária.
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