De SAP2ii a 21.02.2021 às 15:12
1. Este Post de Pedro Correia é muito importante.
2. Porque volta a colocar uma feroz disputa que ocorreu nos «anos 1980», na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA, entre José Mattoso e Vitorino Magalhães Godinho. Comum à que ocorreu nas Ciências Sociais e Humanas na Europa e EUA.
3. Lembro-me bem. Ao vivo e a cores...
4. A derrota de J.Mattoso, e a vitória de V.M.Godinho, conduziu essa Faculdade a ser hoje uma espécie de sede do Bloco de Esquerda (liderada por Fernando Rosas, e outros). Que forma dezenas de militantes de "Esquerda" com a ideologia do "Relativismo Cultural".
5. Foi nessa Faculdade que, por várias vezes, recentemente, foram proibidas ideias a que chamam de “direita”, expulsando os conferencistas com actos de violência física. Num sítio, que em princípio, devia ser o do primado do conhecimento e da liberdade de opinião.
6. Essa derrota de J.Mattoso não foi a nível científico ou do Conhecimento. Foi uma derrota ideológica e administrativa.
7. Razão pela qual, passado este tempo ideológico e conjuntural do Abrilismo, o resultado se inverte.
8. Hoje, José Mattoso volta a estar na vanguarda da reflexão e do rigor científico. E o economicismo positivista e o marxismo da École des Annalles, é uma formulação datada e desadequada à compreensão dos actuais factos sociais e humanos.
9. O tempo, como dizia Heidegger, é "o quem"...
De Vento a 21.02.2021 às 17:19
O percurso de Mattoso também define o que Deus é; e não vale de nada perguntar quem é Deus.
Deus é movimento e repouso. Está em toda a parte mas não é tudo.
Deve ser mais complexo do que isso, já que Vitorino Magalhães Godinho não era marxista, os Annales também não (embora alguns dos seus historiadores, sobretudo inicialmente, o fossem) e Mattoso já tenha colaborado com o Bloco.
De SAP2ii a 21.02.2021 às 18:33
1. Diziam-se ambos de "esquerda".
2. Mas, como se vê, um acreditava em Deus e o outro não.
3. Ou seja, o seu legado científico e o seu contributo para o Conhecimento não dependem do que eles diziam de si, ou faziam. Está fora disso (como todas). É um Objecto que está do lado de fora (na avaliação dos leitores e da sociedade).
4. É esse legado que fica para os vindouros.
5. A «Obra» é a estrutura lógica, as premissas e a filiação que estabelecem com o Conhecimento. As dos dois, não tem qualquer proximidade.
6. Só quem não assistiu ao vivo às acaloradas discussões e às ferozes divergências entre ambos pode supor que, afirmarem-se de “esquerda”, os tornava idênticos a nível epistemológico e ideológico.
7. O marxismo sempre esteve subjacente ao economicismo da École des Annalles. Naquela época e naquele contexto académico, era impossível escapar-lhe.
De SAP2ii a 21.02.2021 às 16:44
1. “Deus” --- numa perspetiva laica, ou mesmo agnóstica --- não tem de ser forçosamente uma alienação, um fechamento, ou um atraso.
2. É uma Fé.
3. Tal como a da Ciência. A do niilismo. Ou, a da certeza de que «nada se saberá, faça-se o que se fizer». São todas iguais, na fé dessas certezas.
4. Não-ter-fé, é também uma afirmação cheia de certeza. De que basta sermos nós a decidir, com os limites do que somos hoje na evolução... para ser Verdade.
5. Ter fé, de facto, é um limite e um impasse. Mas é-o, no sentido do teorema de Gödel.
6. Não quer dizer que seja forçosamente uma desistência, uma recusa, a aceitação do determinismo, ou um “programa fechado” (no sentido de E.Mayr).
7. Se não temos certezas absolutas; se não sabemos qual é a Verdade; se a ciência não possui uma Teoria de Tudo, apenas uma equação de probabilidades.... Então, o que é surpreendente e revolucionário é, mesmo assim, haver alguém com Fé. Seja religioso ou não.
8. E o que ainda é mais surpreendente é, ao compararmos o que dizem todas as religiões, verificar que dizem o mesmo: : «Vai, Faz, Acredita, Continua» ... «Haveis de chegar lá»?
De J. a 21.02.2021 às 18:59
"Mas é-o, no sentido do teorema de Gödel."
Explique lá isso melhor.
De SAP2ii a 21.02.2021 às 20:51
No seguinte sentido:
1. O que diz o Teorema?
(“Über formal unentscheidbare Sätze der Principia Mathematica und verwandter Systeme I”, in Monatshefte für Mathematik und Physik, 1931, vol 38, pp. 173-198).
2. O que demonstra?
3. Porque é designado da "indecidibilidade" ou da "incompletude"?
4. Porque um «sistema», nos termos das suas premissas, não se consegue explicar a si próprio?
5. Porque, apenas com uma premissa exterior a si, é possível explicá-lo e interferir nele?
6. "Deus" é uma premissa do «sistema» (ser-humano, mundo), ou está fora dele?
7. Logo, exista ou não, seja o for que se queira acreditar, então, a formulação da sua existência já não é a capacidade de forjar uma premissa exterior ao «sistema» pelo «sistema»?
8. Assim sendo, essa fé não será uma abertura e não um fechamento? Um avanço, em vez de um atraso? Uma quebra no determinismo animal a que nos condenava a Natureza?
9. Não sei responder.
10. Apenas posso cometer o "Delito de Opinião" de perguntar.
11. Ou seja, apenas posso apresentar a minha opinião como uma performance, anterior à certeza, à verdade e à razão.
12. Portanto, anterior até à própria "dúvida" (pela qual Descartes se definiu como um ser-pensante).
13. Poder falar, dizer e fazer desse lugar anterior à dúvida, à razão e à certeza... determina o lugar do ser-humano onde, entre o Mundo e Deus?