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Delito de Opinião

Frank Carlucci (1930-2018)

Luís Menezes Leitão, 04.06.18

 

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Há homens que tiveram um papel decisivo na história de um país, mas fazem-no de forma tão discreta, que passam quase despercebidos. Frank Carlucci foi um desses homens, tendo permitido aos Estados Unidos retomar o controlo da situação em Portugal, que em 1975 ameaçava descambar perigosamente para o comunismo.

 

A saída dos militares para a rua no dia 25 de Abril de 1974 apanhou os americanos de surpresa, tanto assim que o Embaixador dos Estados Unidos, Stuart Nash Scott, um político que via Portugal como um destino de reforma, se encontrava nesse dia em Londres, num jantar da Harvard Law School. Quando regressou a Portugal viu-se incapaz de controlar a situação. Aquando do 28 de Setembro, Spínola chegou a contactá-lo para pedir o auxílio da NATO, ficando sem saber que resposta dar, até que Spínola caiu. Com Vasco Gonçalves no poder a situação foi-se agravando até que Carlucci chega a Lisboa como embaixador, a 24 de Janeiro de 1975. Imediatamente se espalha pelo país o rumor de que o novo Embaixador americano pertencia à CIA, gerando o ódio das forças revolucionárias. Otelo comenta imediatamente que, se o Embaixador americano era membro da CIA, não seria possível garantir a sua segurança em Portugal. Ouvindo estas palavras Mário Soares entra em pânico, uma vez que as mesmas poderiam ser um pretexto para uma intervenção militar dos EUA para garantir a segurança da sua embaixada. Toma, por isso, a iniciativa de telefonar a Carlucci. Diz-lhe para não ficar assustado, que o General Otelo era uma pessoa temperamental, e que não deveria ser levado a sério. Carlucci responde imperturbável: "Não se preocupe. Já falei com o General Otelo e ficou tudo esclarecido".

 

O que se tinha passado? Carlucci encontrou à entrada da Embaixada uma manifestação violenta de pessoas que a queriam invadir. Pergunta o que estava a causar aquilo e dizem-lhe que foram as declarações do General Otelo. Toma a iniciativa de telefonar a Otelo, dizendo-lhe o seguinte: "Não sei quem o senhor é, mas sei que não tem competência, de acordo com as normas portuguesas, para declarar o embaixador americano persona non grata. Por isso faz favor de me enviar uma tropa para proteger a Embaixada, uma vez que foram as suas declarações que causaram isto". Otelo assim fez e nunca mais a Embaixada voltou a ser incomodada. E afinal o Embaixador americano era mesmo da CIA tendo ido para Director da agência anos depois.

 

A paralisação do processo revolucionário em Portugal deve-se a Carlucci ter aceitado o pedido de Costa Gomes para se organizar uma ponte aérea, que retirou os retornados das antigas colónias. Carlucci percebeu logo que a fervura revolucionária precisava de uma boa dose de água fria, e que essa era o regresso dos retornados, furiosos com a reviravolta que a revolução tinha causado nas suas vidas. E de facto assim foi. Grande parte dos militares revolucionários quis por tudo evitar esse regresso e Rosa Coutinho chegou a afirmar que a ponte aérea tinha sido o maior crime contra o 25 de Abril que foi praticado. Foi graças a Carlucci que a mesma foi realizada e a fúria revolucionária foi travada.

 

Há uns anos Carlucci deu uma entrevista a Miguel Sousa Tavares e foi mais uma vez muito reservado. O jornalista bem insistia em que era importante para a História que ele transmitisse a sua versão dos factos. A isso ele respondeu: "Há coisas sobre que não falo, nem sequer para a História". E de facto, como bom agente que era, levou consigo os segredos para a sepultura.

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