Fora de série (4)
«We’ll meet again, don’t know how, don’t know when...»
Assim reza a canção e faz parte das minhas memórias afectivas por causa de uma série fora de série. Eu teria onze ou doze anos e, todas as semanas, como ritual, ficava a ver mais um episódio de We’ll Meet Again, produção britânica, exibida em 1982. Mais importante do que o cenário – Inglaterra rural e base norte-americana pronta para combater Hitler e os seus terrores – o que me importava verdadeiramente eram as histórias de amor, em especial uma que me inquietava semana a semana: da médica Helen Dereham (Susannah York) e do major Jim Kiley (Michael J. Shannon). Como é que uma mulher respondia assim, com tanta rapidez? E como é que podia ser tão bonita? E como é que...
Eram as minhas perguntas. Logo no primeiro episódio, quando Helen e Jim se conhecem – na berma da estrada junto a um ferido – ela não demonstra qualquer constrangimento. Sabe o que se passa e exige que o ferido seja levado no seu carro. O major, americano, rola os olhos e diz I should take care of this myself. Mal sabia ele – ou eu – que estava ali a mulher da sua vida, por sinal casada com um senhor que fica numa cadeira de rodas, que serviu a causa dos Aliados e é gentil. Tão gentil que nunca percebi se intuiu o affair que a mulher manteve com o dito major durante episódios e episódios.
Como o próprio nome indica, o futuro talvez fosse mais feliz, mas estavam condenados a viver vidas separadas. Susannah York encheu-me as medidas, era a minha actriz preferida (na altura eu só conhecia duas actrizes pelo nome, esta e Julia Andrews – et pour cause?) É evidente que a série tinha mais sumo, muitas histórias paralelas, rapazes americanos apaixonados por meninas inglesas, encontros e desencontros, traições e o fantasma de Hitler, logo do perigo ou da morte. We’ll meet again marcou-me ao ponto de ter comprado a série em DVD há uns anos e, ao contrário do que aconteceu com outros produtos televisivos datados, ter ficado presa à história e à excelência dos actores. Uma boa história não perde qualidade. Se não tiveram oportunidade de ver, deixo-vos um conselho: vejam na net os primeiros episódios disponíveis. Basta ir ao doutor youtube.