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Delito de Opinião

Fora de série (19)

Adolfo Mesquita Nunes, 03.06.16

Explicar por que razão uma série de desenhos animados como ‘Era uma Vez o Espaço’ me atraiu tanto é um exercício de especulação. Foi a minha primeira série, no sentido em que foi a primeira vez que ansiei por novos episódios, em que me sonhei personagem, em que quis colecionar tudo o que existia e não existia sobre os desenhos animados. E a música do genérico é, ainda hoje, uma das canções da minha vida, com força suficiente para me fazer regressar a um tempo em que tudo ainda fazia sentido.

Mas como explicar este interesse, quando tinha 7 ou 8 anos? O que pode justificar este fascínio? Não sei responder com sinceridade, embora hoje possa, revendo e conhecendo melhor a série, perceber alguns dos aspectos que merecem ser destacados. Refiro dois.

Comecemos pelo tema, o espaço, ideal para atrair a atenção de qualquer criança. Havia no enredo uma aproximação aos temas clássicos da ficção científica, um planeta consciente, robôs que se revoltam, civilizações esquecidas, etc…, expostos de uma forma pouco comum nos desenhos animados sobre o espaço.

Havia naquela história, muitas vezes inspirada na mitologia grega, em que as armas não matavam e os bons eram liderados por uma mulher, uma preocupação em explorar os temas de uma forma mais filosófica: democracia, religião, morte, tolerância, diversidade. Talvez por isso, havendo bons e maus, a história se passasse num ambiente apesar de tudo pacificado, em que espécies diferentes conviviam em harmonia, em que a ciência e a razão dominavam como fontes de prosperidade e em que uma das protagonistas não era ariana.

Psi-lieutenant-de-la-police-du-corps.jpg

E agora a música, do Michel Legrand, com orquestra sinfónica, que atravessa toda a série. Poucos desenhos animados se terão dado a este luxo, de juntar um grande compositor e uma orquestra de propósito para acompanhar as cenas espaciais das personagens. Ainda hoje essas composições têm força suficiente para tornar esta série numa série de culto, embora ofuscada por séries como Espaço 1999 ou Gallactica, que na altura competiam também pelo público infantil. Ora escutem.

Não sei se isto ajuda a explicar por que razão esta série me marcou tanto. Mas não deixa de ser uma boa forma de despertar a curiosidade de quem ainda não conhece esses desenhos animados, muito diferentes aliás dos restantes da mesma série ‘Era uma Vez’ (os mais populares, em Portugal, davam pelo nome de ‘Era uma Vez a Vida’). Quanto ao mais, tudo o que esta série me faz recordar, tudo o que nela me inspira, não caberia aqui. 

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