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Delito de Opinião

Fora de série (17)

Ana Lima, 01.06.16

Se referir o seu nome – Angus -, poucos saberão de quem estou a falar. Mas se vos lembrar que pedaços de chocolate, clipes, cartões, pastilhas elásticas, moedas, relógios, elásticos de cabelo, brincos ou qualquer objecto que possa estar à nossa mão podem servir para provocar explosões, abrir algemas, recarregar baterias ou até desarmar mísseis; tenho a certeza que todos saberão a quem me refiro: Macgyver, pois claro!

Esta série, realizada por Lee David Zlotoff, acompanhava um ex-agente das Forças Armadas, especialista em conseguir resolver problemas (e alguns eram tramados) utilizando, para tal, objectos simples do dia a dia. O sucesso foi enorme em muitos países. Por cá não foi excepção. A sua capacidade para resolver grandes conflitos sem usar armas (o mais próximo era o seu inseparável canivete suiço), deixava-nos presos ao ecrã, por mais inverosímeis que fossem as situações. Os conhecimentos de física e química, a inteligência e capacidade de observação do protagonista, que o levavam a vencer os inimigos, faziam dele um herói diferente, numa desconstrução dos heróis típicos, e isso só fazia crescer a nossa admiração. E o esperado momento em que as preocupações eram ultrapassadas e no rosto aparecia aquele sorriso era mágico.

A música do genérico era também um elemento marcante e mal a ouvíamos aí estávamos nós a deixar as tarefas que tínhamos em mãos para correr para a frente do televisor: "Agora não posso, mãe. Está a começar o MacGyver"...

 

Na altura em que a série estreou nos EUA (1985) a guerra do Vietnam tinha terminado há apenas 10 anos e as suas consequências na sociedade americana ainda se faziam sentir com intensidade. Por outro lado, Ronald Reagan, presidente na altura, levava a cabo uma política de intensificação da guerra fria e de intervenção em vários locais no mundo, que muitos apelidavam de imperialista e belicista. Não sei se estes factos se podem ou não ligar com esta ideia de um herói que atinge os seus objectivos sem as armas tradicionais (defendidas tão abertamente, na altura, pela América e pelo seu presidente), mas podemos pensar que sim.

Podemos também, analisando o sucesso por cá, lembrar que a facilidade em lidar com o improviso também diz muito aos portugueses, habituados que estão a serem (ou pelo menos a dizerem que são) engenhosos e desenrascados. Ora ali tinham um exemplo que demonstrava que, mesmo sem meios à disposição, se podem atingir os nossos fins.

Coincidência ou não parece que o regresso deste herói está marcado para breve. Claro que Richard Dean Anderson já não fará o papel do homem que dá nome à série. O mesmo acontecerá com os restantes actores. E provavelmenente o velho casaco também não será o mesmo. Aliás parece que, nesta nova versão, se pretende voltar atrás no tempo, ao estilo "prequela", como se diz agora. Mas haverá certamente um Murdoc (a luta entre os bons e os maus continua a fazer sentido) e alguma tensão romântica entre o novo MacGyver e uma ou mais raparigas que com ele se cruzem nas suas aventuras (um outro elemento clássico).

Boa ou má a nova série não se poderá comparar com a que vimos há umas décadas atrás. Para além da série em si as circunstâncias não são as mesmas. E nós também não somos os mesmos.

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