Fora de Série (15)
O Verão Azul dava à quarta feira à tarde da minha pré-adolescência e passava-se numa vila balnear perto de Málaga.
Na altura eu passava férias no parque de campismo de Ferragudo, de maneira que sonhava com o dia em que, montada na bicicleta, integraria um grupo como o do Verão Azul. Claro que eu queria ser a Bea, a rapariga de cabelo comprido por quem todos os rapazes se batiam. E queria que o Javi gostasse de mim porque, para além de ser loiro, tinha uma sunga Speedo último grito da moda balnear.
Um dia quase consegui estar à altura da Bea, lá na cafetaria do parque de campismo. Uns rapazes de dezasseis anos meteram conversa comigo e quando me perguntaram a idade eu tive vergonha de dizer que só tinha doze e avancei para a maior mentira da minha vida: disse que tinha treze.
O Verão Azul fazia-nos caminhar pelo verão algarvio embalados pelo tralalá do genérico. E era uma série muito realista porque tinha uma data de pais às direitas que, de copo de whisky na mão, não tinham qualquer pudor em recorrer ao antigo método pedagógico de distribuir lambadas sempre que um filho se armava em esperto. Só o Piranha levou para cima de meia dúzia num dia em que resolveu levar a cabo uma greve de silêncio.
Era este realismo que me lançava para dentro do ecrã da televisão e me fazia conversar com as personagens como se fossem meus amigos. Fartei-me de comer gelados com o Quique, de dar conselhos à Desi, que era a feiosa do grupo, de passear pelas ruas de Ferragudo com o Pancho, que sabia tudo sobre pesca, e de derramar lágrimas verdadeiras pela morte do bom e velho Chanquete.
Claro que os meus filhos não percebem nada destes dramas quando os obrigo a passar os DVDs da série, com uma pobre imagem desbotada. Julgam que é ficção científica. Mas a verdade é que o meu coração ainda palpita de cada vez que oiço assobiar as notas dos azuis verões de antigamente.