Fora da caixa (7)
«O PSD vai perder as eleições.»
José Pacheco Pereira, na TVI 24 (4 de Setembro)
As sondagens variam, mas todas apontam na mesma direcção.
A da Pitagórica atribui 43,6% das intenções de voto ao PS e apenas 20,4% ao PSD - um fosso de 23,2% entre os dois principais partidos. A do ICS-ISCTE estabelece uma diferença de 19 pontos percentuais: 42% para o PS, 23% para o PSD. A da Eurosondagem concede a vitória aos socialistas, com 38,1%, ficando o partido laranja com 23,3% - um intervalo de 14,8%. E a da Intercampus fixa esta diferença em 14,3% - correspondente ao intervalo entre os 37,9% do primeiro e os 23,6% do segundo.
Seja qual for a distância que venha a registar-se nas legislativas de 6 de Outubro, alcance ou não o PS a vitória por maioria absoluta, um dado é inquestionável em todas estas pesquisas de opinião, elaboradas a cerca de um mês do escrutínio real: o PSD prepara-se para obter o seu pior resultado eleitoral de sempre. Coroando assim uma tendência: a da queda global do partido fundado por Francisco Sá Carneiro - em declínio desde a fuga de Durão Barroso para Bruxelas, no Verão de 2004. No ano seguinte, com Santana Lopes no comando, perdeu. Quatro anos depois, sob a liderança de Manuela Ferreira Leite, voltou a perder. Passos Coelho inverteu esta tendência, vencendo em 2011 e 2015, mas o rumo anterior é retomado agora com Rio ao leme.
Há pontos de contacto entre a derrota registada em 2009, frente ao PS de José Sócrates, e aquela que se antevê para o mês que vem, face ao PS de António Costa: num caso e noutro, o partido está nas mãos do mesmo grupo interno. Rui Rio chegou a ser apontado como proto-candidato há dez anos, acabando como mandatário no Porto da antiga ministra das Finanças, além de seu braço direito como primeiro vice-presidente da Comissão Política Nacional; agora, Manuela retribui com a defesa persistente de Rio na sua tribuna semanal da TVI 24. Paulo Mota Pinto, que presidiu à Comissão de Honra da candidatura de Rio, em Novembro de 2017, foi o mandatário nacional de Ferreira Leite em 2008.
Um grupo que, derrota após derrota, vai destruindo aquela que chegou a ser a maior força partidária portuguesa. Ao invés do que sucedia com Sá Carneiro, que conduziu o PSD a partido de governo, alicerçado em duas expressivas vitórias eleitorais possibilitadas pelo alargamento da sua base sociológica, estes seus putativos herdeiros estreitaram-na no afã de perseguirem a "verdadeira" social-democracia - agora também reclamada pelo BE de Catarina Martins - com Rio a garantir que não quer «disputar eleitorado à direita».
Eis a consequência directa de um rumo encetado há muitos anos e que não surge por acaso: Rio, como Ferreira Leite antes dele, tem como estratego de cabeceira o biógrafo de Álvaro Cunhal, José Pacheco Pereira, que militava na esquerda radical quando Sá Carneiro presidia ao PSD. É ele o mentor da «viragem à esquerda» de um partido que sempre foi interclassista e avesso a catalogações ideológicas. Quatro anos após ter sido empossado o Executivo da "geringonça", Pacheco ainda espuma de raiva contra «o governo de Passos e Portas», de que foi um denodado combatente desde o primeiro dia.
Agora também ele já concede a derrota antecipada nas legislativas - a segunda que traz a sua marca estratégica no espaço duma década. O PSD, quando lhe atribui o estatuto de maitre penseur, sai sempre mais fraco e debilitado.
Será currículo ou cadastro? Eis matéria para reflexão a partir do dia 7 de Outubro, quando o partido tentar emergir dos escombros.