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Delito de Opinião

Fora da caixa (5)

Pedro Correia, 09.09.19

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«O programa do Bloco é social-democrata.»

Catarina Martins, em entrevista ao Observador (2 de Setembro)

 

Não sei o que terá acontecido a ambas. Tão duras, enérgicas e rebarbativas na campanha para as eleições europeias, tão doces, etéreas e cândidas nesta caminhada para as legislativas.

Convenço-me de que as duas se abastecem de sabedoria junto do mesmo tipo de guru. Alguém que lhes sussurra: limem arestas, falem com voz pausada, sorriam muito na pantalha. Mesmo que Rio vos mire com desprezo, mesmo que Costa vos triture com metralhas verbais.

E elas assim fazem: Assunção Cristas, outrora émula da brava Padeira de Aljubarrota, surge-nos com maviosos trinados de rouxinol; Catarina Martins, que já se assemelhou à indomável Maria da Fonte, parece agora estagiar para Madre Teresa de Calcutá.

Os gurus pós-modernos recomendam-lhes: não caiam na tentação do azedume, que provoca inúteis rugas de expressão e afugenta a clientela eleitoral. Pratiquem a castidade ideológica, previnam-se contra tentações radicais. 

Serão conselhos presumivelmente sábios. Mas receio que a coordenadora do BE ande a exagerar nas práticas revisionistas que a tornam quase irreconhecível. Confessar-se «social-democrata», nesta altura do campeonato, pode tresandar a eleitoralismo desbragado junto das pituitárias mais sensíveis.

E que diria o velho Trotsky, mentor da primeira geração de dirigentes do Bloco? «Ao prolongar a agonia do regime capitalista, a social-democracia conduz somente à decadência ulterior da economia, à desintegração do proletariado, à gangrena social», uivava o velho áugure num dos seus textos doutrinários que moldaram o pensamento do doutor Louçã.

Os resíduos trotsquistas são hoje uma curiosidade arqueológica no BE. Não me admirava que o neoguru de Catarina lhe recomendasse ao ouvido, insuflado de espírito feelgood: «Na próxima entrevista diga que o seu autor de cabeceira é Paulo Coelho.»

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