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Delito de Opinião

Fora da caixa (3)

Pedro Correia, 07.09.19

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«Um programa de Governo não pode ser uma lista de prendas de Natal.»

António Costa para Catarina Martins (ontem, na RTP)

 

Os eleitores de centro-direita, que andavam desconcertados por falta de representação política nesta campanha legislativa, encontraram enfim alguém que fala para eles: António Costa. O secretário-geral do PS, depois de ter feito um nó cego ao PSD e ao CDS na campanha europeia a propósito da questão da contagem do tempo de serviço dos professores, em nome do rigor das contas públicas, adopta agora idêntica estratégia para estancar as perspectivas de crescimento do Bloco de Esquerda. Tarefa que parece exercer sem rebates de consciência, indiferente ao facto de os bloquistas lhe terem estendido a passadeira vermelha ao longo da legislatura.

O outro, comportando-se com a inconsciência narcísica dos adolescentes, proclamava-se "animal feroz". Mas a ferocidade mais temível, como os livros ensinam, é a dos que aparentam placidez. Catarina Martins que o diga: foi ontem arrasada sem contemplações, num frente-a-frente na RTP, pelo mesmo político que recebeu o seu abraço efusivo em forma de voto legitimador de quatro orçamentos do Estado. Em louvor à memória da defunta geringonça, subsistiam sorrisos naquele estúdio - mas o de Costa era de aço. O sorriso gélido de quem marcha para a guerra disposto a não fazer prisioneiros.

Andava a doce Catarina a colher papoilas nesse jardim das delícias que é o programa eleitoral do BE quando Costa, mirando com enfado o mesmo documento, a alvejou com fogo verbal: «Isto é absolutamente irrealizável.»

O advérbio de modo, certamente não escolhido por acaso, sugeria sem ambiguidades o que figura no topo da lista das prendas de Natal do primeiro-ministro: governar sem a muleta bloquista. Mas para que isto se tornasse ainda mais evidente Costa aplicou a Martins um gancho de direita: «O BE propõe-se contrair dívida para nacionalizar um conjunto de empresas. Gastar 10 mil milhões de euros a nacionalizar a Galp significa o mesmo montante da despesa corrente do Serviço Nacional de Saúde. Qual é o sentido desta despesa?»

Aberta a época da caça ao voto da direita, que Rui Rio deixou em estado de orfandade, o líder do PS supera a concorrência com larga vantagem: estrangulou o défice e bate-se contra as nacionalizações, fazendo das regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento as suas tábuas da lei.

O centro-direita tem motivos para celebrar: volta a ter um líder em Portugal.

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