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Delito de Opinião

Fora da caixa (28)

Pedro Correia, 10.10.19

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«O PEV definiu um conjunto de prioridades que corresponde também a um conjunto de prioridades do PS.»

António Costa, ontem, na sede dos "Verdes"

 

De eleição em eleição, o Partido Comunista Português vai recuando. Já foi maioritário em largas parcelas do território nacional, que nas manhãs seguintes a cada escrutínio surgiam pintadas a vermelho nas páginas dos jornais. Hoje, em 308 concelhos, os comunistas estão confinados a dois: Avis e Mora, por sinal dos mais desertificados do País.

Tiveram os piores resultados de sempre nas presidenciais de 2016, nas autárquicas de 2017 e nas europeias de 2019. Acabam de registar novo recorde mínimo, desta vez em eleições legislativas: em quatro anos perderam 115 mil votos. Têm agora apenas cerca de 330 mil, correspondentes a uma percentagem de 6,5%. Se compararmos estes números com os que obtiveram no seu ponto máximo, em 1979, verificamos que os comunistas recuaram 150% em percentagem eleitoral e ficaram circunscritos a um quarto dos parlamentares então eleitos. Eram 47 em 250, agora são só 12 em 230. Há 40 anos, o PCP recolheu 1.129.322 boletins de voto, o que lhes proporcionou uma percentagem de 15,7%.

Tempos irrepetíveis.

 

Tudo se vai reconfigurando no reduto comunista, cada vez mais exíguo e acantonado.

Tudo? Tudo, não. Neste depauperado cenário eleitoral - que deixa de fora deputados como Carla Cruz, Bruno Dias, Rita Rato e Jorge Machado, além de Paulo Sá, que já não figurava na lista, e do reaparecido Miguel Tiago, remetido para um distrito de eleição impossível só para picar o ponto - há um partido que jamais recua. É o mesmo que nunca se submeteu a um teste eleitoral sem ser como muleta dos comunistas - essa fraude política chamada "Partido Ecologista Os Verdes", existente desde 1982. Mantém dois deputados, chova ou faça sol. Desta vez, por obscuros motivos que escaparam ao escrutínio jornalístico, a gerência comunista decidiu excluir da eleição a "verde" Heloísa Apolónia, que passara metade da sua vida como deputada profissional - também ela remetida a um distrito de eleição impossível.

 

Vai iniciar-se outra legislatura. Lá surge de novo esta fraude política em todo o esplendor, funcionando como duplicação do tempo de intervenção dos comunistas no hemiciclo de São Bento, em organismos estatais como a Comissão Nacional de Eleições e o Conselho Nacional de Educação - e também no jornalismo burocrático que hoje predomina em vários circuitos informativos.

Foi o que voltou a suceder ontem, com a delegação socialista presidida por António Costa a visitar a sede do PEV, a manter "negociações" com os inquilinos daquela casa e alguém (não a desaparecida Heloísa, presumível dissidente) a falar em nome do partido-satélite do PCP, como se este tivesse um milímetro de autonomia estratégica. Um filme de ficção transmitido à hora dos telejornais.

Observo este lamentável teatro de sombras, caucionado por Costa, e questiono-me até quando a lei eleitoral portuguesa permitirá que uma agremiação partidária funcione durante mais de 35 anos sem nunca concorrer isolada às urnas. É uma pergunta que devia ser feita com insistência aos responsáveis políticos. Mas fica sempre por fazer. Infelizmente, também muitos jornalistas colaboram nesta farsa, fingindo levar a sério um partido que não existe.

4 comentários

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    Pedro Correia 10.10.2019

    Interprete como quiser.
    Como metáfora poética, por exemplo.
    Agora que estamos no Outono, vai caindo a folha. Dos vermelhos e dos falsos verdes.
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    jj.amarante 11.10.2019

    Ia dizer "fico sem palavras" mas será mais correcto dizer "fico sem números".
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    Pedro Correia 11.10.2019

    Deixe lá, há coisas piores.
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