Fora da caixa (23)
«Entre o conhecimento do bem e do mal há uma grande diferença: o mal conhece-se quando se tem e o bem quando se teve; o mal, quando se padece, o bem, quando se perde.»
Padre António Vieira
Mário Soares fundou o PS em Maio de 1973. Sá Carneiro fundou o PPD (depois PSD) em Maio de 1974. Diogo Freitas do Amaral, agora falecido, fundou o CDS em Julho de 1974. Álvaro Cunhal, de algum modo, refundou o PCP na década de 40 e foi seu dirigente histórico durante quatro décadas. Fernando Rosas, Francisco Louçã, Luís Fazenda e Miguel Portas fundaram o Bloco de Esquerda em 1999.
E o PAN, que parece ter caído do céu há quatro anos, ungido por André Silva? Este partido tem um fundador, do qual todos os actuais dirigentes parecem demarcar-se, vá lá saber-se porquê. É o professor Paulo Alexandre Esteves Borges, budista praticante após ter sido entusiasta do Quinto Império: primeiro presidente do partido, em 2011, afastou-se da liderança três anos depois e desfiliou-se em 2015. Entre «divergências profundas quanto ao rumo que alguns comissários [pretendiam] dar ao PAN».
Seria interessante recordar a cascata de convulsões internas que levaram ao seu afastamento.
Seria interessante saber se André Silva se revê nos princípios doutrinários de Paulo Borges, discípulo espiritual do padre António Vieira e do professor Agostinho da Silva.
Seria interessante indagar se o professor Borges tenciona votar no partido que fundou.
Já agora, também teria interesse saber por que motivo o deputado do PAN preferiu votar em Fernando Negrão em vez de Ferro Rodrigues para presidente da Assembleia da República em Outubro de 2015.
Eis questões com relevância pública e que mereciam tratamento jornalístico se o PAN fosse encarado pelo mesmo prisma acutilante reservado à maioria das forças partidárias representadas no Parlamento.