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Delito de Opinião

Fora da caixa (18)

Pedro Correia, 30.09.19

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«Se houver um problema interno, é no plano interno que deve ser discutido.»

Jerónimo de Sousa (9 de Abril) 

 

Dos cinco principais partidos portugueses, o PCP é aquele que tem uma expressão eleitoral cada vez mais diminuta - como demonstraram as recentes eleições autárquicas (desceu dos 552.690 votos em 2013 aos 489.189 em 2017), europeias (passou de 416.446 votos em 2014 para 228.156 em 2019) e regionais da Madeira (baixou de 7.060 votos em 2015 para 2.577 em 2019).

E, no entanto, é também aquele que aparece menos no espaço mediático. Deu-se ao luxo, por exemplo, de recusar a participação nos debates a dois promovidos pelos canais de televisão por cabo - evitando assim o confronto com Catarina Martins e Assunção Cristas sem ninguém ousar aludir a misoginia. E vetou a participação de Jerónimo de Sousa no programa de Ricardo Araújo Pereira - que tem sido, de longe, o mais divertido palco político destas legislativas. Neste caso, ao que parece, trata-se de ajustar contas antigas: lá na Rua Soeiro Pereira Gomes não perdoam o acutilante humor deste seu antigo militante, que se atreveu a declarar coisas como esta: «Precisamos do PCP para defender os trabalhadores do PCP.» Parafraseando um antigo dirigente de outro partido, quem se mete com o PCP leva...

Talvez por isto, os comunistas são, entre as cinco principais forças partidárias, aqueles que mais se furtam ao escrutínio público. Nunca são tratados em termos jornalísticos como os restantes. No PCP não existe oposição interna - há "dissidentes", como sucedia na defunta União Soviética. Nunca há divergências públicas - a "unidade" é uma regra inabalável e o menor sopro de contestação fica abafado entre os espessos muros do estado-maior vermelho.

 

Jerónimo de Sousa é o rosto visível deste partido que ainda se comporta, em larga medida, como se vivesse na clandestinidade. Falta saber quase tudo o resto.

Quem são os membros do Secretariado e da Comissão Política, os dois órgãos decisórios da cúpula comunista? Alguém sabe os seus nomes fora da bolha partidária? Que currículo profissional têm? Quantos anos de exercício como funcionários do partido acumulam? Por que motivo ninguém os conhece fora do círculo interno e jamais concedem uma entrevista à imprensa "burguesa"? Quem controla as finanças do partido - que é reconhecidamente o mais rico, com depósitos bancários acima dos três milhões de euros - e o seu valiosíssimo património imobiliário? Ninguém imagina que a chave do cofre esteja na algibeira de Jerónimo, o mais antigo deputado português (ocupa um lugar em São Bento desde a Assembleia Constituinte, em 1975).

 

Saberíamos um pouco mais se os órgãos de informação atribuíssem o mesmo tratamento ao PCP que reservam aos restantes partidos. Mas, com raríssimas excepções, isso não acontece: os comunistas beneficiam de uma complacência generalizada de jornais e televisões, por motivos compreensíveis: dá muito mais trabalho investigar o que lá se passa e trazer à luz do dia o que ocorre naqueles corredores cheios de segredos.

A oposição interna à "geringonça", por exemplo, é tão vasta que dava para narrar num livro. Ou dois.

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