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Delito de Opinião

Fora da caixa (14)

Pedro Correia, 23.09.19

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«Adoro as espetadas madeirenses.»

António Costa, ontem à noite, na sede do PS 

 

O secretário-geral do PS reagiu de forma original, no Largo do Rato, à derrota eleitoral do seu partido na eleição para a Assembleia Legislativa da Madeira. Com esta declaração de amor ao principal cartaz da gastronomia insular, alicerçado na comprovada excelência do gado bovino.

Fiquei preocupado. Isto vai trazer-lhe imensos dissabores junto do lóbi animalista, da vetusta academia coimbrã e até no seio do seu próprio governo (espero que as patrulhas me autorizem a escrever a expressão "no seio", de que tanto gosto).

 

Já antevejo o reitor Falcão enraivecido de indignação, de dedo acusador apontado a Costa, repetindo o que o levou a interditar a carne de vaca nas cantinas que tutela: «Vivemos um tempo de emergência climática e temos de colocar travão nesta catástrofe ambiental anunciada.»

Antevejo também o titular da pasta do Ambiente a balbuciar protestos à entrada do próximo Conselho de Ministros, lembrando ao chefe do Executivo o compromisso governamental de declarar o País «neutro de carbono» até 2030 e a recentíssima declaração do próprio Costa sobre a substituição da carne por peixe nos jantares oficiais. Malhas que a correcção política tece.

 

Basta olhar para o líder socialista para se perceber que é bom garfo: imagino-o a deliciar-se com um leitão à Bairrada ou um chacuti de cabrito. Para ele, deve ser uma tremenda chatice aturar os fiéis devotos da rúcula e os talibãs do tofu.

Serei o último a admirar-me de o ver mais vezes na Madeira nos meses que vão seguir-se, até em incursões clandestinas, para matar saudades das suculentas espetadas em pau de loureiro. É verdade que o PSD continua ali a ganhar eleições, mas quase ninguém vota no PAN e o boicote à boa carne ainda não contaminou a Pérola do Atlântico.

 

De Costa podemos esperar muita coisa, mas sou incapaz de imaginá-lo convertido ao feijão maduro cozido com um fio de azeite, apregoe frei André Silva o que apregoar.

Percebo cada vez melhor que prefira entender-se com Jerónimo de Sousa. Não tanto por uma imperiosa necessidade de convergência política mas pela possibilidade de ambos partilharem mão de vaca com grão ou ensopado de borrego, tudo regado com tinto alentejano. A "descarbonização" pode esperar.

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