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Delito de Opinião

Figura nacional de 2020

Pedro Correia, 01.01.21

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MARTA TEMIDO

Ela entrou-nos casa adentro muitas vezes ao longo de 2020. Quase sempre para anunciar más notícias, todas relacionadas com a pandemia do novo coronavírus que também se abateu sobre Portugal. E deixou estragos, desde logo em número de contágios e óbitos. Segundo os dados estatísticos com chancela oficial, até 31 de Dezembro a pandemia provocou 413.678 infectados e causou 6906 mortos no nosso país. Em apenas dez meses. 

Marta Temido foi, seguramente muito a contragosto, a face mais visível desta tragédia sanitária a que o Governo foi dando respostas nem sempre convincentes. Teve grande protagonismo mediático, sim. Mas poucos desejariam estar no lugar dela ao longo deste ano terrível que agora fica para trás. Apesar de tudo aguentou estoicamente, resistindo a imitar o colega que tinha a pasta das Finanças: mal soaram os primeiros sinais irrefutáveis de crise muito grave, Mário Centeno transitou para o conforto da poltrona suprema no Banco de Portugal. 

Foram razões suficientes para ela merecer a eleição da tribo "delituosa" como Figura Nacional de 2020. Escolhida mesmo à tangente, diga-se. Com seis votos em 20. No segundo posto, com cinco, ficou Rui Pinto, o pirata informático que expôs diversos podres relacionados com a finança, a política, o futebol e até com o sistema judicial em casos que conduziram a investigações policiais baptizadas com nomes sonantes, como Luanda Leaks e Football Leaks.

 

Outros escolhas de autores do DELITO DE OPINIÃO distribuíram-se por nomes avulsos. Todos com apenas um voto.

Foi o caso do Presidente da República, que agora se apresenta como recandidato a Belém: Marcelo Rebelo de Sousa apenas conseguiu um voto entre nós. E por um motivo nada lisonjeiro: «Por conseguir nunca ter dito nada que mereça ser lembrado, nunca ter feito nada que não recebesse o apoio da opinião pública e ter contribuído para a anestesia geral enquanto o país desliza para os últimos lugares do desenvolvimento na Europa, guardando sempre níveis de popularidade invejáveis.»

 

Quem mais? 

A directora-geral da Saúde, Graça Freitas. «Provavelmente a única a ombrear com Marcelo e Costa na notoriedade», em termos nacionais, ao longo de 2020, disse quem votou nela. Os pilotos Filipe Albuquerque (campeão do Mundo e campeão da Europa de Resistência, vencedor das 24H de Le Mans) e Miguel Oliveira (vencedor de duas provas de Moto GP, incluindo o Grande Prémio de Portugal). O presidente do Sporting, Frederico Varandas. Um senhor chamado José Brito, herói quase anónimo que «arriscou a vida para salvar um desconhecido que tinha caído à água junto ao Cais da Colunas», em Lisboa.

Sem esquecer Centeno, ele mesmo. Também com um voto, irónico ou sarcástico: «Trocou o Ministério das Finanças pelo Banco de Portugal, o que parecia impossível (e seria impossível noutro contexto) sem grandes críticas nem sobressaltos.» Há homens com sorte. 

 

Destaque, enfim, para um voto em pessoa colectiva: «todos os trabalhadores a que agora chamamos essenciais e que estão há meses e meses em risco acrescido, desgaste emocional, cansaço extremo, mantendo o país a funcionar.»

Não venceram nesta votação mas têm lugar assegurado na consideração e admiração de todos os portugueses.

 

 

Figura nacional de 2010: José Mourinho

Figura nacional de 2011: Vítor Gaspar

Figura nacional de 2013: Rui Moreira

Figura nacional de 2014: Carlos Alexandre

Figura nacional de 2015: António Costa

Figura nacional de 2016: António Guterres

  Figura nacional de 2017: Marcelo Rebelo de Sousa

Figura nacional de 2018: Joana Marques Vidal

Figura nacional de 2019: D. José Tolentino Mendonça

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