Figura internacional de 2019
BORIS JOHNSON
Nem por ser já esperada deixou de constituir uma das vitórias eleitorais mais marcantes da cena política de 2019. Boris Johnson, que começou por chefiar o Executivo britânico sem passar pelas urnas, limitando-se a receber a pasta de Theresa May, conduziu em 12 de Dezembro o seu Partido Conservador ao maior triunfo eleitoral desde 1987, passando a dispor de uma sólida maioria absoluta na Câmara dos Comuns, ao contrário do que acontecia com a sua antecessora. Tem 365 assentos parlamentares - 39 acima do patamar da maioria absoluta.
O seu estilo excêntrico - mesmo para os padrões britânicos - e a linguagem acutilante que cultiva como imagem de marca levaram alguns, mais distraídos, a considerá-lo uma réplica de Donald Trump. Nada mais errado. Desde logo, Johnson tem impecáveis credenciais académicas e pedigree intelectual. Foi aluno na Escola Europeia em Bruxelas, depois em Eton e Oxford, diplomou-se em Estudos Clássicos, é um reputado biógrafo de Winston Churchill. Exerceu o jornalismo em periódicos conceituados: The Times, Daily Telegraph e The Spectator (sendo editor deste último). Antes de ascender à chefia do partido e do Governo, em Julho de 2019, destacou-se como presidente da Câmara de Londres (2008-2016) e ministro dos Negócios Estrangeiros (2016-2018).
A eleição deste irrequieto nativo do signo Gémeos, nascido há 55 anos em Manhattan e que só em 2016 renunciou à cidadania norte-americana deveu-se em boa parte à sua promessa de solucionar de vez o impasse em torno do Brexit. Johnson é um entusiasta da saída definitiva do Reino Unido da União Europeia, que deverá consumar-se em 2020. Ao contrário de Jeremy Corbyn, o seu rival do Partido Trabalhista, que manteve posições muito ambíguas nesta matéria. O que talvez explique o terramoto eleitoral do Labour: em Dezembro, obteve o pior resultado desde 1935.
O DELITO DE OPINIÃO elegeu Boris Johnson como Figura Internacional do Ano na votação mais apertada de 2019. O chefe do Governo britânico superou apenas por um voto (nova contra oito) a activista sueca Greta Thunberg, que liderou a batalha mediática à escala mundial contra as alterações climáticas num ano que suportou o mês de Julho mais quente desde que há registos credíveis e em que a Islândia viu desaparecer o primeiro glaciar.
O terceiro lugar do pódio, com cinco votos, coube ao primeiro-ministro etíope Abiy Ahmedy, distinguido com o Prémio Nobel da Paz pelos seus esforços para «alcançar a paz e a cooperação internacional», justificou a academia de Oslo. Em alusão ao seu protagonismo na obtenção de um acordo de paz entre a Etiópia e a Eritreia, pondo fim ao tenso impasse que permanecia entre os dois países, envolvidos num sangrento conflito no final do século XX.
Houve ainda dois votos isolados. Um em Juan Guaidó, o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, reconhecido por mais de cinco dezenas de países (incluindo Portugal) como líder legítimo do país, embora Nicolás Maduro ainda ocupe o Palácio de Miraflores. O outro voto recaiu em John Bercow, o carismático presidente cessante da Câmara dos Comuns, que ganhou fama planetária pelo modo peculiar como presidia aos debates - começando pelo seu inconfundível "grito de guerra": «Order! Order!»
Figuras internacionais de 2010: Angela Merkel e Julian Assange
Figura internacional de 2011: Angela Merkel
Figura internacional de 2013: Papa Francisco
Figura internacional de 2014: Papa Francisco
Figuras internacionais de 2015: Angela Merkel e Aung San Suu Kyi
Figura internacional de 2016: Donald Trump
Figura internacional de 2017: Donald Trump
Figura internacional de 2018: Jair Bolsonaro