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Delito de Opinião

Fiel a si própria

Cristina Torrão, 15.08.19

Greta Thunberg Stina Stjernkvistimago images.jpg

Fonte: Stina Stjernkvist/imago images

 

Com esta greve dos motoristas de matérias perigosas, os portugueses acabaram por descurar algo que, não fosse a dita greve, provocaria discussões acaloradas nas redes sociais: Greta Thunberg iniciou ontem a sua viagem a Nova Iorque, a fim de participar numa cimeira das Nações Unidas.

Afinal a mocinha sempre vai poluir os céus. Que alívio, pensarão os críticos, podemos atacá-la como a qualquer outro ambientalista de pacotilha.

Não, não podem! Greta não vai de avião. Esteve meses à procura de uma alternativa e a escolha acabou por cair na embarcação Malizia II, equipada com painéis solares e turbinas submersas que geram electricidade sem emitir dióxido de carbono. A viagem durará cerca de duas semanas. O barco é dirigido por um velejador alemão.

Greta Thunberg continua fiel a si própria. E, não obstante todos os seus admiradores e apoiantes, há muita gente a odiá-la. Gente que critica os tais “ambientalistas” que passam a vida a cruzar os céus, de cimeira em cimeira. Em relação a Greta, a crítica não chega, passa-se ao ódio. Apenas por ela se manter fiel às suas convicções. É perverso, mas é a realidade.

Ulrich Wagner, psicólogo social e Professor de psicologia na Universidade de Marburg, dá a sua explicação para este tipo de comportamento:

Muitos consideram que o aquecimento global não é um problema. Outros consideram que é, mas que não podemos fazer nada contra ele, ou seja, mudar o nosso estilo de vida não faz sentido. Por isso, não aguentamos bem que haja alguém que ponha os nossos comportamentos básicos em questão.

A intervenção de Greta Thunberg, a sua postura, obriga as pessoas a pensarem em si próprias, a fazer uma análise crítica de si. Gera-se um conflito interior, coisa que não apreciamos.

Quando nos vemos em conflito com o mundo, tendemos a procurar explicações simples para isso. Pomos então a responsabilidade em pessoas concretas. Rejeitar pessoas é sempre muito fácil. É o que se chama “piscologiar”: os que destoam e assumem posições polémicas são apelidados, em casos extremos, de doentes mentais.

Outra técnica é a desacreditação: tenta-se desacreditar Greta Thunberg, acusando-a, por exemplo, de servir de propaganda a terceiros, em vez de defender convicções próprias. É um comportamento habitual. Pessoas que trazem inovações não são apreciadas.

Pois é, gostamos mais de fracos, de vira-casacas, de hipócritas. Esses, sim, mostram-nos que afinal ainda há quem possamos censurar, quem nos eleve a modelos de virtudes.

 

Nota: o segundo link é alemão; a tradução é livre, de minha autoria.

 

P.S. O pai da Greta acompanha-a. Grande Pai!

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