Fictiongram, continuação da continuação
Paulo conforta-o dizendo que as fragilidades são as impressões digitais da sua humanidade, ou do que resta dela. O escritor bebe mais um pouco e pergunta
Gosta da Carmen?
Gosto.
Quer ficar com ela?
Isso nunca vai acontecer.
Se Paulo fica com a Carmen, ou nem por isso, o escritor não sabe, porém, de forma súbita e atabalhoada levanta-se, parece uma diva e vislumbra-se o seu ser feminino em todo o esplendor, e grita para a sua personagem
Já sei, já sei como resolver tudo. Parece complicado mas não é, venha para a sala preciso de um cigarro. Tem cigarros? Eu deixei de fumar.
Paulo dá-lhe um cigarro de um maço que traz no bolso de dentro do casaco. O escritor pensa
Ele fumava, na história?
O escritor inaugura o fumo do cigarro com prazer, mas o corpo rejeita tudo aquilo, alarme, alertas, o corpo a cuspir e um ataque de tosse sem fim. A figura que faz é triste, quase ridícula, o escritor tosse, engasga-se um pouco mais, sente as lágrimas a saltarem dos olhos e, como uma criança em convulsões, há ranho que lhe sai pelo nariz. Paulo faz um esgar. É nojo, senhores, nojo do seu criador, a criatura não faz destas coisas.