Fé e ideologia
Gostei de ouvir, e recomendo que oiçam o José Manuel Fernandes no Contra Corrente de hoje no Observador.
Destaco as seguintes notas.
O Director do NHS inglês é um técnico superior que responde ao Parlamento e não ao Governo. Está em funções desde 2014, o que significa que já trabalhou com vários PM.
Tem ao seu dispor a rede hospitalar do país, pública e privada, e é com base nela que planeia a evolução das necessidades, sem a pressão de ir embora quando houver eleições, nem a desculpa do governo anterior.
A pandemia chegou a todos, mas nem todos têm a mesma proporção de mortos não-covid.
O apego à ideologia na actualidade, o ódio ao privado, a demonização do lucro e o desprezo pelas consequências, só será comparável ao apego à fé cristã noutros tempos da nossa história. Os ingleses eram uns merceeiros que não entendiam nada de tradição, nem de honra e muito menos de fé. Só queriam fazer comércio e ganhar dinheiro, mas nós é que iríamos converter o mundo na verdadeira fé. No fim de contas, bem sabemos o resultado.
Hoje, embora com uma crença diferente, agimos rigorosamente da mesma forma. É a sina da grandeza a que aspiramos mas que nunca conseguimos concretizar.
Os relatos que aqui tivemos no texto do João Sousa e nos comentários do nosso leitor Carlos Sousa e da nossa leitora Susana V, lembram-nos como as rupturas do nosso SNS são frequentes nesta época. As queixas dos utentes que são assistidos pelo mesmo médico de manhã nas urgências e à tarde no privado, e que empurram assistências de um lado para o outro, só existem por não haver coragem nem condições políticas para fazer reformas, para fixar médicos e enfermeiros e a mantê-los motivados.
A maravilha da geringonça bloqueou qualquer hipótese de reformas e nós (alguns) insistem em ficar encantados a apreciar as habilidades do nosso PM. É ele a fazer habilidades e malabarismos, e nós a ficarmos para trás nos rankings europeus que interessam e à frente nos que nos envergonham e entristecem.
Até quantos mortos estamos dispostos a sofrer, sem exigir reformas efectivas?