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Delito de Opinião

Falta de decência

Paulo Sousa, 18.06.20

Era uma vez um país em que um quinto dos seus cidadãos vivia na pobreza ou no seu limiar, que tinha recebido milhares de milhões de euros por ano em transferências de fundos europeus, que mesmo assim tinha conseguido ir à falência, e que depois disso continuava a aumentar a sua dívida em várias dezenas de milhares de milhões euros por ano.
Nesse país, um dia reuniram-se as três principais figuras de Estado para anunciar pelas televisões ao país que - orgulho! - a Final da Champions seria realizada na nossa capital!!
Dizem que o tipo que escrevia os discursos do PM lá do sítio não jogava com o baralho todo, coitado. Os pais eram primos direitos e ele babava-se um bocado, mas tinha sido o melhor no ensino especial. Deixavam-no andar por ali porque ajudava a preencher as quotas para que a equipa de assessores fosse inclusiva.
O discurso tinha de mostrar ao país que esta grande conquista – não, não tínhamos nenhum astronauta na ISS, era muito melhor do que isso – era uma conquista de todos os cidadãos. O gajo adorava bola e estava em êxtase. Ele latejava de inspiração e o teclado já estava em brasa.
Se estivéssemos a atravessar mais uma época de incêndios, esta fantástica e maravilhosa conquista seria um prémio para os nossos bombeiros, os nossos heróis, mas como ainda não está a fazer calor... então ia bem era para os profissionais de saúde, pronto! Isso sim, era uma boa ideia. As palmas na varanda já lá vão. Eles mereciam alguma coisa objectiva e de efectivo valor. Era por isto que eles ambicionavam!
Felizmente o chefe dos Spins leu o discurso antes de o passar para as mãos do PM e achou que afirmar que este evento “era um prémio merecido para os profissionais de saúde” seria ofensivo para os próprios, riscou a frase e, à costa da mão, deu uma bofetada ao anormal que a tinha escrito.
E assim o último limite da decência foi salvo.

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