Falando em "símbolos coloniais"
Nas últimas semanas tem havido muita discussão nas redes sociais, em Portugal, sobre a manutenção de "símbolos coloniais". Por vezes com vocabulário datado de há meio século e hoje totalmente ultrapassado. Qualquer folheto ou documentário de propaganda turística demonstra como o adjectivo colonial foi reabilitado, entre elogios ditirâmbicos à «arquitectura colonial», à «gastronomia colonial» e até à «atmosfera colonial» nas mais diversas paragens. Não faltam aliás, ainda hoje, países com possessões coloniais - com destaque para França, Holanda, Reino Unido, Dinamarca e até os Estados Unidos.
Alguns por cá, tolhidos por absurdos complexos de inferioridade e totalmente incapazes de assumir a História com as suas luzes e sombras, não perdem uma oportunidade de esgrimir contra "símbolos coloniais" - seja aos gritos contra a toponímia (como a da Praça do Império, em Lisboa) ou na diabolização de palavras consideradas malditas (como ocorreu na polémica em torno do putativo Museu dos Descobrimentos), passando pela vandalização de estátuas (como a do Padre António Vieira) ou até pela demolição de monumentos (como sugere um deputado socialista, aludindo ao Padrão dos Descobrimentos), mimetizando a histeria em curso nos States.
Em qualquer dos casos, pretende-se submeter factos passados ao crivo de cartilhas ideológicas actuais em nome da correcção política. Ignorando vozes sábias, como a de Ramalho Eanes, que muito recentemente declarou: «Sem império, dificilmente teríamos mantido a independência em certas épocas. Seríamos uma Catalunha.»
Enquanto por cá isto se passa, vale a pena revisitarmos países e territórios que já fizeram parte do império colonial português. Para verificarmos como os símbolos históricos relacionados com Portugal são hoje ali encarados no espaço público. Proponho-vos uma pequena digressão em imagens oriundas de África, América, Ásia e Oceânia.
Sem lamúrias nostálgicas mas com respeito integral pelo tempo que passou.
Mindelo, Cabo Verde: estátua do navegador Diogo Gomes
Farim, Guiné-Bissau: padrão evocativo do Infante D. Henrique
Huambo, Angola: estátua de Norton Matos, governador (1912-1915) e alto-comissário (1921-1924)
São Tomé: estátuas dos navegadores João de Santarém, Pero Escobar e João de Paiva
Ilha de Moçambique: estátua de Vasco da Gama
Salvador, Brasil: estátua de Tomé de Sousa, primeiro governador-geral do Brasil (1549-1553)
Goa: Arco dos Vice-Reis, com estátua de Vasco da Gama
Damão: monumento aos portugueses que «morreram pela pátria»
Diu: estátua de D. Nuno da Cunha, vice-rei da Índia (1529-1538)
Macau: estátua do navegador Jorge Álvares
Díli, Timor-Leste: padrão evocativo do Infante D. Henrique