Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Delito de Opinião

Facto nacional de 2017

Pedro Correia, 08.01.18

20170618_incendio_pedrogao_grande_floresta_2[1].jp

 

 

PORTUGAL A ARDER DE JUNHO A OUTUBRO

 

Não há memória de um incêndio tão mortífero. Os portugueses não esquecerão a tragédia de Pedrógão Grande, com as chamas a devorarem árvores, mato, casas, carros e lamentavelmente também pessoas a 17 de Junho. O balanço deste fogo florestal - que alastrou aos concelhos de Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera - foi dantesco: 66 pessoas mortas, 254 feridas (muitas em estado grave), 150  famílias desalojadas e quase 50 mil hectares de floresta reduzidos a cinzas.

Portugal continuou em chamas. Em Julho já tinham ardido 118 mil hectares de área florestal e agrícola. Em zonas tão diferentes como  Alijó e MaçãoMértola e AbrantesCoimbra e Sertã. Uma situação de calamidade nacional, entre críticas generalizadas de falhas das comunicações e da protecção civil.

Os incêndios prosseguiram a sua acção devastadora no mês seguinte, confirmando 2017 como um dos piores de sempre em matéria de fogos florestais. Registaram-se 268 fogos num só dia, a 12 de Agosto. E este máximo foi superado no dia 20, quando houve 304 incêndios simultâneos.

Ainda traumatizado pelo drama de Pedrógão, o País viu-se confrontado com outra enorme tragédia, a 15 de Outubro, quando a área florestal de dezenas de concelhos do interior e até do litoral foi total ou parcialmente destruída pelas chamas. Viseu, Coimbra, Leiria, Castelo Branco, Braga, Aveiro e Guarda foram os distritos mais afectados pelos incêndios, que provocaram a morte de 45 pessoas, arrasaram empresas, pastos e áeas de cultivo, inutilizaram aldeias, cercaram cidades, calcinaram o pinhal de Leiria e deixaram um rasto de devastação com prejuízos ainda difíceis de contabilizar. Com ecos noticiosos em toda a imprensa internacional, até às mais recônditas regiões do globo.

No plano político, os fogos de Outubro levaram à tardia  demissão da ministra da Administração Interna e a um reajustamento no elenco governamental.

No total do ano, morreram 125 portugueses vítimas dos incêndios. Este foi, infelizmente, o Facto Nacional do Ano para o DELITO DE OPINIÃO, numa votação que congregou 22 dos 30 membros deste blogue.

 

Só três votos destoaram da linha dominante.

Um deles recaiu na Operação Marquês, enfim concluída a parte investigatória com acusações deduzidas ao ex-primeiro-ministro José Sócrates, ao antigo banqueiro Ricardo Salgado e aos gestores Henrique Granadeiro e Zeinal Bava, entre vários outros arguidos.

Outro voto realçou o facto de Portugal ter conseguido em 2017 o défice mais baixo em democracia, excedendo as previsões da Comissão Europeia e do próprio Governo.

Houve, finalmente, ainda um voto isolado na degradação do regime e das suas instituições. "Notório em tudo o que aconteceu na Administração Interna, na Protecção Civil, na Saúde, na Defesa, na Assembleia da República, nos factos constantes da Operação Marquês, nas nomeações para as empresas onde o Estado tem uma palavra a dizer, nalgumas sentenças e acórdãos judiciais, no desporto."

 

Facto nacional de 2010: crise financeira

Facto nacional de 2011: chegada da troika a Portugal

Facto nacional de 2013: crise política de Julho

Facto nacional de 2014: derrocada do Grupo Espírito Santo

Facto nacional de 2015: acordos parlamentares à esquerda

Facto nacional de 2016: Portugal conquista Europeu de Futebol