Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Façam apps, não automóveis

José António Abreu, 10.03.17

2014: Facebook compra WhatsApp por 19 mil milhões de dólares.

2016: Microsoft compra LinkedIn por 26,2 mil milhões de dólares.

2016: Nissan compra 34% da Mitsubishi Motors por 2,2 mil milhões de dólares.

2017: Grupo PSA (Peugeot, Citroën, DS) compra a totalidade do braço europeu da GM (Opel e Vauxhall) por 2,3 mil milhões de dólares.

 

Note-se a diferença de valores. Num mundo de relações online, de expectativas e impaciências desmesuradas, de taxas de juro negativas, de dinheiro nascido da concessão de crédito, talvez seja natural que os bens tangíveis percam importância e que a riqueza (a global como a dos famigerados ricos-que-continuam-a-enriquecer) seja cada vez mais virtual - e volátil. A própria inflação transferiu-se dos bens transaccionáveis para as bolsas e, dentro destas, em especial para as empresas que poucos ou nenhuns bens físicos produzem. Compare-se a evolução dos principais índices bolsistas com a evolução da economia dos respectivos países e o resultado só pode suscitar preocupação. Que percentagem da riqueza mundial se perderia hoje com um - bastante provável, de resto - crash bolsista? Quanto dinheiro desapareceria com a assumpção da incapacidade de pagamento de tantas dívidas gigantescas, públicas como privadas?

Mas este mundo também tornou a riqueza mais acessível às pessoas com as ideias certas e a coragem de as levar por diante. No fim de contas, fazer uma app custa muito menos do que projectar, construir e comercializar um automóvel. Talvez este facto explique em parte a insatisfação (a raiva, mesmo) que grassa nos países ocidentais (e utilizo o termo de forma abrangente, não geográfica). Por muitos defeitos e distorções que existam, por muitas ameaças que se perspectivem, nunca ao longo da história das sociedades organizadas (e hierarquizadas) as oportunidades perdidas o foram por motivos tão auto-atribuíveis.

3 comentários

  • O tema do post não é bem esse mas OK, vamos lá.

    Não. Quando muito, Marx tinha razão considerando as circunstâncias da época, muito mais parecidas com oligarquias do que com as democracias liberais das últimas décadas (ainda que algumas destas tenham tendências para a oligarquia - e, sim, estou a incluir Portugal no grupo). Nestas, há dois factores que impedem o monopólio.

    1. O papel regulador do Estado.
    O Estado não tem que ter empresas mas tem que regular - i.e., assegurar que, por fusões ou outros meios, a concorrência não desaparece. Um exemplo nacional: sou muito crítico do processo que levou ao desmembramento e colapso da PT mas nunca lerá uma linha escrita por mim criticando a decisão da Anacom que forçou a separação das redes de cobre e de fibra, da qual resultaram a MEO e a Zon (hoje NOS).

    2. O dinamismo concorrencial inerente às sociedades abertas.
    Um monopólio tende a ser complacente e a subir preços. Se não estiver protegido pelo Estado, abre espaço para a concorrência. E, na sociedade actual, com vendas online, mudanças tecnológicas repentinas, problemas de fiabilidade e de imagem cada vez mais passíveis de gerar danos graves, o tamanho não o protege tanto quanto se pensa. Veja-se como a Nokia chegou a ter quase 40% do mercado mundial de telemóveis e, apesar disso, foi ultrapassada - e destruída.
  • Sem imagem de perfil

    Einstürzende Neubauten 10.03.2017

    O que não faltam são exemplos de cartelização de preços:
    - Combustíveis
    - Telecomunicações
    - Banca

    O problema é provar que existe cartelização.

    O mercado livre apenas surge, potencialmente, em mercados grandes, e mesmo assim é complicado - veja o exemplo dos EUA aquando da liberalização da aviação civil - voos internos - as grandes empresas baixaram de tal maneira os preços que afogaram as empresas emergentes.

    Veja o caso da agricultura - não há espaço para o pequeno agricultor - o mercado favorece grande extensões de terrenos/maquinaria caríssima.

    A longo prazo não existirá ninguém livre, apenas trabalhadores por conta de multinacionais/outrem
  • Comentar:

    Mais

    Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

    Este blog tem comentários moderados.