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Delito de Opinião

Expulsões

Luís Naves, 28.01.16

Na crise migratória europeia não há apenas refugiados. Alguns comentadores resistiram ao uso da palavra ‘migrantes’, dizendo que tinha carga ideológica. São refugiados, dizia-se, por isso deve ser usada apenas essa palavra. Ontem, a Suécia decidiu expulsar 60 mil a 80 mil migrantes, tendo rejeitado quase metade dos pedidos de asilo recebidos em 2015, e algumas notícias mostram que entre nós o fenómeno não é compreendido, escrevendo-se por exemplo que estão a ser expulsos refugiados, algo que seria crime. A Suécia não deixou de cumprir as leis internacionais e expulsa pessoas que não têm direito a asilo, com origem em países que não estão em guerra.

A opinião pública portuguesa foi submetida a uma versão da crise migratória que torna difícil assimilar alguns dos problemas criados. A proporção de refugiados é metade do total de pessoas que entraram nas fronteiras europeias e a expatriação dos migrantes que não têm direito a asilo terá custos adicionais. A crise migratória coloca questões de segurança e ameaça alterar a própria identidade europeia, tendo criado graves divisões, com um grupo de países de leste a recusar a ideia de uma política comum de imigração e asilo. Neste momento, está em perigo o próprio espaço de livre circulação de Schengen, que permite uma das liberdades essenciais na União Europeia, mas a animosidade entre governos pode já ter ultrapassado o ponto de não retorno. O número elevado de migrantes e refugiados provocou reacções de descontentamento em países como Alemanha, Dinamarca ou Suécia, o que beneficia partidos populistas que exigem limites. Entretanto, apesar do Inverno, os números continuam a crescer.

Em 2015, a Europa recebeu mais de 1 milhão de pessoas, que têm de ser alojadas, alimentadas e integradas na sociedade. Este é o problema político mais grave que a Europa enfrentou nos últimos dez anos, mas em Portugal pairam as teses politicamente correctas, sobretudo a ideia simplista de que a Europa está a falhar por falta de generosidade, quando ocorre o caso inverso, ela parece incapaz de enfrentar esta quantidade de refugiados, para mais havendo a perspectiva de multidões que se podem pôr em movimento (2 a 3 milhões de refugiados sírios na Turquia) e a dificuldade em integrar altas percentagens de gente com uma cultura distinta. É evidente que a Suécia não pode receber em cada ano 150 mil pessoas (1,5% da sua população) e a rejeição dos migrantes económicos era uma mera questão de tempo.

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