Expulsões
Na crise migratória europeia não há apenas refugiados. Alguns comentadores resistiram ao uso da palavra ‘migrantes’, dizendo que tinha carga ideológica. São refugiados, dizia-se, por isso deve ser usada apenas essa palavra. Ontem, a Suécia decidiu expulsar 60 mil a 80 mil migrantes, tendo rejeitado quase metade dos pedidos de asilo recebidos em 2015, e algumas notícias mostram que entre nós o fenómeno não é compreendido, escrevendo-se por exemplo que estão a ser expulsos refugiados, algo que seria crime. A Suécia não deixou de cumprir as leis internacionais e expulsa pessoas que não têm direito a asilo, com origem em países que não estão em guerra.
A opinião pública portuguesa foi submetida a uma versão da crise migratória que torna difícil assimilar alguns dos problemas criados. A proporção de refugiados é metade do total de pessoas que entraram nas fronteiras europeias e a expatriação dos migrantes que não têm direito a asilo terá custos adicionais. A crise migratória coloca questões de segurança e ameaça alterar a própria identidade europeia, tendo criado graves divisões, com um grupo de países de leste a recusar a ideia de uma política comum de imigração e asilo. Neste momento, está em perigo o próprio espaço de livre circulação de Schengen, que permite uma das liberdades essenciais na União Europeia, mas a animosidade entre governos pode já ter ultrapassado o ponto de não retorno. O número elevado de migrantes e refugiados provocou reacções de descontentamento em países como Alemanha, Dinamarca ou Suécia, o que beneficia partidos populistas que exigem limites. Entretanto, apesar do Inverno, os números continuam a crescer.
Em 2015, a Europa recebeu mais de 1 milhão de pessoas, que têm de ser alojadas, alimentadas e integradas na sociedade. Este é o problema político mais grave que a Europa enfrentou nos últimos dez anos, mas em Portugal pairam as teses politicamente correctas, sobretudo a ideia simplista de que a Europa está a falhar por falta de generosidade, quando ocorre o caso inverso, ela parece incapaz de enfrentar esta quantidade de refugiados, para mais havendo a perspectiva de multidões que se podem pôr em movimento (2 a 3 milhões de refugiados sírios na Turquia) e a dificuldade em integrar altas percentagens de gente com uma cultura distinta. É evidente que a Suécia não pode receber em cada ano 150 mil pessoas (1,5% da sua população) e a rejeição dos migrantes económicos era uma mera questão de tempo.