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Natália
Cabra-cega
O meu espelho tem os olhos fechados desde criança.
Durante o intervalo, no pátio da escola primária, brincava-se a um jogo que sempre detestei: um lenço vermelho emprestado pela professora Isabel da terceira classe era amarrado à volta dos olhos de uma menina, a cabra-cega, que ficava acocorada no centro de uma roda.
Cabra-cega, donde vens?
Venho da serra.
Que me trazes?
Trago bolinhos de canela.
Dá-me um!
Não dou.
Gulosa, gulosa, gulosa...
Era isto que repetia, incessantemente, o coro formado pelas crianças, numa lengalenga impiedosa, renovada até à exaustão, que acabava por fazer surgir as lágrimas, apenas ocultas pelo lenço vermelho da professora Isabel.
Rute Coelho, Gostas do que Vês?
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