Eurodeputados portugueses sobre Moçambique
jpt, 27.11.24
(Maputo, Av. Eduardo Mondlane, Fotografia de Luísa Nhamtumbo/LUSA)
De Maputo um amigo moçambicano avisa-me que ontem houve uma sessão no Parlamento Europeu, e deixa-me ligação para esta resenha das intervenções dos eurodeputados portugueses. Chama-me também a atenção para a posição do PCP, enfatizando a justeza das eleições de Outubro e atacando a oposição, bem como a "ingerência externa". (o comunicado daquele partido).
E nisso, de imediato, lembro-me do Camarada Pimentel, meu pai. Comunista "ortodoxo", sempre implacável com os "desvios de direita", tipo aqueles "eurocomunismos". Militante até à morte - já contei a história mas repito-a: muito doente, tão mirrado, no hospital, eu no fundo da cama, a minha sobrinha - sua neta querida - junto a ele, e antes de sairmos, hora de visita terminada, disse-lhe "avô, hoje estás com muito melhor aspecto, muito rosadinho". E ele, com um fio de voz, murmurou "rosa por fora, mas vermelho por dentro..." Morreu nessa noite, a última coisa que lhe ouvimos foi essa ironia, até cáustica...
Cresci a conversar com o Camarada Pimentel. E continuo nisso, num diálogo que me é intelectualmente profíquo. E moralmente penoso, pois ele, preocupando-se, não me desculpa o desarrumo seguido. E agora mesmo, quando - após ter visto vários filmes de hoje, com a polícia atropelar manifestantes com carros de assalto na Eduardo Mondlane, com soldados ruandeses nesta avenida, de cadáveres assassinados pela polícia no meio da rua em Nampula, etc. - lhe disse a posição do "Partido" sobre a situação de Moçambique, ele - como tantas vezes nas últimas décadas - semicerrou os olhos, meneou a cabeça. E lamentou "a falta de quadros no partido".
Eu, como já passa do meio-dia, servi-lhe um cálice de rum, carregado de carinho. E a mim também.