Este século começou em Setembro
Estava de folga, espreitei ao fim da manhã a TV - e já não consegui desgrudar os olhos do ecrã.
Mal engoli o almoço, rumei ao jornal como voluntário - à semelhança de muitos colegas que estavam desmobilizados naquele dia.
Passei catorze horas seguidas a trabalhar.
Saí do edifício da Avenida da Liberdade ia alta a madrugada de 12 de Setembro de 2001, quatro edições depois. Sabia que venderíamos largas dezenas de milhar de exemplares do diário no conjunto das bancas do País - breve e derradeiro apogeu da imprensa escrita.
A caminho de casa, afundei-me no banco traseiro de um táxi, esgotado e transido. Com a nítida sensação de aquela ter sido a dramática e definitiva despedida do século XX.
Um novo mundo acabara de ser inaugurado. Demasiado parecido com o pior do mundo velho.