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Delito de Opinião

Esta submissão

Teresa Ribeiro, 16.05.18

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Acabo de ler num desses agregadores de notícias que não desligar da tecnologia tem consequências várias para a saúde, incluindo distúrbios do sono, que por sua vez se reflectem na saúde mental. Não me perturbo. Esse alerta reciclado de outros alertas que fui lendo ao longo do tempo não me deu qualquer novidade. Mas levou-me, isso sim, a reflectir sobre a contradição que observo em muita gente que me rodeia: cada vez são mais os que estão atentos a tudo o que é informação sobre alimentação saudável e exercício físico, adoptando aqui e ali hábitos que poderão travar o colesterol, a diabetes e os efeitos da idade, hábitos que incluem beber em jejum sumos de couve, cenoura e bróculos (!!!) mas fazem orelhas moucas às notícias que nos dão conta dos estragos que o uso incontinente de tecnologia provoca. 

Quando confrontados desculpam-se com o zelo profissional, que os obriga a estar disponíveis 24h, e com o assédio dos amigos das redes sociais, que aguardam feedback. Mas nunca se interrogam verdadeiramente sobre os limites da relação de dependência que desenvolveram para lá do razoável. Porquê esta tão mansa submissão, ó intrépidos bebedores de sumo de couve?!

Será porque ao contrário do que acontece com a alimentação saudável, o exercício físico e - oh! Esqueci-me! - "o pensamento positivo", tomar medidas contra a dependência de tecnologia não está na moda? Será que os nossos hábitos saudáveis tão seriamente discutidos, calibrados e assumidos não passam afinal de tendências Primavera/ Verão, Outono/ Inverno que assimilamos alegremente manietados pelos media? Assim parece.

A tecnologia, como antes aconteceu com o tabaco, está fora do nosso radar quando o assunto é "vida sã em corpo são". Sabe-se que provoca danos a nível psíquico, social e familiar. Pode até falar-se disso na sala. Revirar os olhos, encolher os ombros, suspirar um pouco. Perorar como pais sobre a preocupação que o tema nos provoca também é bem visto, mas daí a fazer contenção de danos, vai um enorme e consistente risinho amarelo e o tal mantra sobre profissionalismo e os amigos virtuais "que não me largam" antes de enfiar a cabeça na areia.

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