Esta noite sonhei com Deus
Maria Dulce Fernandes, 19.06.22
Quantas vezes não me apetece mandar tudo às urtigas e cavar um buraco grande no chão, enterrar a cabeça bem fundo lá dentro, voltar a tapar e deixar todas as complicações, todas as apoquentações, todos os problemas... toda a maldade, cá fora, onde eu nada possa ver.
Pode parecer ridículo, mas é um pensamento que tanta gente acalenta, tanta gente cansada... o que os olhos não vêem, o coração não sente.
Tem dias que estou tão farta de tudo, que só queria poder ser Deus por algumas horas para poder pôr uns pontos nos iis e uns traços nos tês.
Sonhei com Deus. Não tinha barba e parecia um tanto metrossexual. Ainda bem que era um sonho, porque unhas manicuradas com um mundo em fogo, não é de bom tom.
Penso frequentemente que gostava de ver Deus, não sonhar com ele, mas vê-lo realmente, nem que fosse ao longe, só para lhe poder dizer umas verdades do género disso da ubiquidade. É que se está no meio de todos nós, por que raio é que nunca está onde e quando é preciso?
Estou cansada de guerra, como a Tereza Batista, e penso, penso tanto nas gentes desafortunadas que não estão cansadas de dela ouvir, mas estão cansadas de a viver e sobreviver.
Gostava de ver Deus para lhe pedir que visse também.
Enquanto isso vou ficar além, naquele além do Variações, que todos entendem tão bem.
Vou descobrir um mundo só para mim e assim não preciso de aborrecer ninguém com as minhas idiossincrasias malucas, mas parece que segundo os mapas já está tudo descoberto por aí. Pode ser que encontre alguma coisa escondida no fundo empoeirado duma prateleira dum alfarrabista, um lugar pequenino como um dedal, onde eu possa ser eu de vez em quando.
(Imagem do Google)