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Delito de Opinião

Esta noite sonhei com calor

Maria Dulce Fernandes, 12.06.22

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Odeio o calor! Alguém que possa ler estes escritos pensará seguramente que estou completamente louca. Haverá porventura quem goste do Inverno, do frio, do vento e da chuva?! EU gosto.

Prefiro mil Invernos com temporais tenebrosos a um dia com temperaturas superiores a 30 graus, sem sopro de vento e com o sol a gritar o nosso nome em plenos pulmões na sua voz muda. A rua está quente, a casa está quente, o trabalho parece o inferno, o corpo está quente, e até as bebidas frescas nada têm de refrescante, pois parece que nos deixam ainda mais quentes. A roupa parece que é feita de goma, a pele transpira cola, e a produção elaborada do rosto parece o caudal lamacento que escorre da montanha depois duma abundante chuvada.

Quando eu era miúda, saíamos da escola dois dias por semana á tarde, entre Março e fins de Maio, para lanchar uma merenda e fazer ponto cruz no Jardim Botânico. As tardes eram amenas, o vento, uma carícia, cheirava a flores e a erva fresca – eram maravilhosas tardes de Primavera, estação do ano que já pertence à categoria dos exterminados, como o pássaro Dodô, por ter sido uma das primeiras vítimas do Efeito Estufa. Passámos a ter outras quatro estações: Verão, semi-Verão, Inverno e Inverno-sem-chuva.

O frio do Inverno é controlável pela maior ou menor quantidade de roupa, agora a torreira do Verão, controlamos como? Terá Deus querido castigar a humanidade por ter cometido o Pecado Capital (… Quem nunca comeu um raio duma maçã, que atire a primeira pedra…) e relegar-nos á nossa condição de descendentes de Adão e Eva, deixando-nos uma vinha estéril para usarmos só as folhas??

Sem conseguir responder aos angustiados pensamentos que me assolam, vou buscar os meus leques, companheiros inseparáveis das longas horas de Estio em vigília à alvorada, e preparar-me para mais uma noite insone, reconfortando-me a ideia de que se houver realmente Céu e Inferno, certamente iremos no elevador que sobe ou no que desce, não ficaremos seguramente a meio do caminho, pois no Purgatório já andamos há algum tempo.  

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