Esta noite sonhei com barulho
Maria Dulce Fernandes, 07.07.22
Tinha dezasseis anos feitos de fresco há dois dias. Estava em Piccadilly Circus e lá estava ele.
Tocava e cantava o Yellow Submarine e creio que poucos havia que não acompanhassem aquela energia em lalala, humhumhum ou com letra e música até.
Era bizarro e estrondoso. Tocava uma panóplia de instrumentos ao mesmo tempo, mais ruído do que música, à qual somente o vocalizo conferia o reconhecimento necessário.
É uma recordação grata.
Na ultima semana nem sei porquê, tem morado na minha cabeça, apenas o ruidoso, o estrondoso, o barulhento. Não para de ribombar a sua desconjuntada filarmónica, acrescentando passos e batida stomp, que volteia , sapateia e faz guinchar um sonoro turbulento nas minhas trompas auriculares.
Latejo. É o bombo traseiro incessante na sua crepitosa batida ...
... " o trompete protesta, ratatatata, ratatatata tarara, e quanto aos timbales , só têm dois sons : sol dó, dó sol, boom boom boom boom boom" ...( dezasseis anos, quinze, talvez).
Será este o som das festas de Covid no número dez? Ou do matracar dos martelos pneumáticos nas novíssimas obras em casa?
O livro que seguro não se segura e deixa as letras acompanhar o ritmo desconcertado.
O músico, multifacetado como é, está seguramente a tocar picareta. É preciso partir pedra para alargar o canal! Mas é uma metáfora? Hoje em dia, tudo é uma metáfora.
O músico, multifacetado como é, está seguramente a tocar picareta. É preciso partir pedra para alargar o canal! Mas é uma metáfora? Hoje em dia, tudo é uma metáfora.
Com novo bater do bombo vem a debandada. É para continuar? Ele bem que gostaria, mas o relaxamento inconsequente é assim mesmo.
Fecho os olhos cansados desta dor de cabeça residente nestes sonhos despenteados e penso no Boris . Se for Karloff, pelo menos é verde. Não, este não é verde, nem lhe percebo bem a cor. Não é da cor do inferno, bem pelo contrário, afigura-se- me um anjinho! Pode lá ser!