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Delito de Opinião

Era uma vez...

Joana Nave, 23.02.22

Era uma vez um planeta azul, a que chamavam Terra. Nesse planeta havia fauna, flora, humanos e muitas comodidades. Os seres humanos reproduziam-se, cresciam, evoluíam e iam inventando formas de facilitar as suas vidas, tornando-as mais longas, com mais posses, com mais experiências. Ter e acumular tornaram-se palavras banais. Os dias foram ficando mais preenchidos de coisas e mais vazios de imaginação. A globalização aniquilou o prazer da descoberta e tornou tudo demasiado acessível. As distâncias encurtaram, as relações evoluíram do físico para o digital e a comunicação atingiu o seu auge, aproximando tudo e todos à distância de um click.

O planeta azul foi ficando saturado, por ser usado em demasia, por ser testado até ao limite. Os recursos começaram a escassear, a abundância deu lugar à extinção, e a descoberta da cura foi muitas vezes o início de uma nova doença. Os rios secaram, a água deixou de correr, os humanos foram apodrecendo na escala da sua ambição desmedida, da sua arrogância e do desprezo pelos demais. O dinheiro moveu o mundo, mas o dinheiro não o salvou.

A Terra tornou-se um lugar inabitável, onde aos poucos deixamos de ter meios de subsistência. Os alimentos que antes nos nutriam, tornaram-se veneno para o nosso corpo. O ar deixou de ser respirável e o simples acto de respirar tornou-se sufocante. Ainda tentamos promover hábitos de vida saudáveis, a conversão ao vegetarianismo, o regresso às bases, e tantas outras teorias que não puderam vingar por ser tarde demais. Na prática, estamos todos a enfrentar a desilusão e a amargura do caminho que temos vindo a trilhar, das escolhas inconscientes e da falta de amor próprio.

O planeta azul ficou muito doente e a esperança foi ficando cada vez mais distante, empurrada para bem longe pelo cruel destino que as nossas acções foram definindo ao longo dos tempos. Seguimos, mas apenas esperamos que o sol amanhã ainda possa brilhar, que a chuva refresque o chão que pisamos, regue as árvores e leve para bem longe as partículas de dor e ódio que planam no espaço que nos rodeia.

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