Entretanto, à esquerda
Partido, bloco, corrente, sensibilidade, tendência, fórum, alternativa, manifesto, petição, plataforma... Por este caminho, só falta mesmo experimentar o terraço e a açoteia. Parecem infinitas as possibilidades de (des)organização do espaço político à esquerda. A fragmentação e a incapaciadade crónica de entendimento não podem ser uma coincidência. Pela sua recorrência e permanência esta circunstância só pode corresponder a uma característica intrínseca do modo de ser da esquerda portuguesa. E, aqui, o traço mais evidente que ressalta é o da superioridade moral que todos os que se querem situar nessa geografia política se arrogam. É assim face ao espaço à direita. O auto-proclamado cidadão de esquerda considera-se a si próprio como ocupando um degrau superior na cadeia política e, pela ordem natural das coisas, declara-se mais culto. Mas é assim também dentro da própria esquerda. Recorrentemente, a discussão centra-se na pureza da proposta de todas e cada uma das esquerdas. No comprimento progressista da visão das alternativas. Na dimensão, espessura e profundidade das utopias de cada um dos protagonistas. Ora, quando num determinado espaço político cada um dos partidos, blocos, correntes, sensibilidades... (pois, já sabemos), parte para a discussão ancorado num pressuposto de superioridade indiscutível da posição que defende, o caminho está à partida impedido para qualquer entendimento.