Emoções #8
A emoção da fé
O ye, of little faith
É a fé que nos salva, diziam na catequese.
Pode ser verdade. Não sou crente, mas acredito. Tenho fé. Sim, tenho a minha fé.
Nos chamados lugares sagrados, sempre me senti consciente da minha pequenez. Falta-me sempre o peito para tanto coração e caio amiúde num pranto que não sei explicar, apenas sei sentir.
É assim em Fátima, no Bom Jesus, em Lamego. Foi assim em Santiago de Compostela, em Lourdes ou em Roma.
Sempre defendi que somos o fruto das nossas escolhas e não acredito em predestinação, mas vezes há em que tudo se conjuga para que o acaso se transmute num acontecimento único.
Aconteceu tantas vezes.
Em Roma, por exemplo.
Fomos cedo para a Praça de S. Pedro. Nove da manhã ou talvez nem tanto, para evitar o mundo que se adivinhava. Trinta ou quarenta minutos depois, entrámos na basílica. Estranhámos pedirem-nos para revistar as mochilas à entrada. Já tínhamos passado por todo esse processo à chegada à praça, entre as colunas. Muita Guarda Suíça e provavelmente muitos mais à paisana. Um deles disse-nos que podíamos ficar ou sair, mas não poderíamos voltar a entrar. Decidimos ficar. Era o dia do aniversário do meu marido e tínhamos um almoço especial nos planos, mas ficámos. Simpático, deu-nos um livrinho com o programa e os cânticos.
A missa de ordenação de novos padres começou e o Papa Francisco entrou com todo o séquito papal. Estava ali, mesmo ali, quase à distância de um braço. Chegados ao altar-mor, começaram a celebração que durou quase três horas.
Chorei grande parte do tempo. No restante, cantei os cânticos com toda a emoção que uma estranha sensação de felicidade redescoberta me permitiu.
Quando terminou e deixaram entrar a mole humana que aguardava, sentimo-nos sozinhos e sentámo-nos cá fora a chorar.
A emoção da fé envolveu-nos e embalou-nos naqueles momentos de puro fascínio.
E a praça cá fora transbordava de gente unida pela mesma fé.
Foi uma emoção extraordinária.