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Delito de Opinião

Em perfeito delírio

Sérgio de Almeida Correia, 08.12.15

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(AP/Adriana Cubillos)

 

O comunicado emitido pelo PCP, um dos partidos que sustentam a maioria parlamentar do XXI Governo, sobre o resultado as eleições parlamentares venezuelas fez-me recuar algumas décadas. O mesmo povo que deu dezassete vitórias eleitorais às "forças progressistas e revolucionárias", algumas com acusações de fraude à mistura e violência contra os opositores políticos, resolveu, desta vez, esmagá-las nas urnas com um resultado que não deixou dúvidas a ninguém.  

Do comunicado do PCP não se percebe como poderão aquelas forças, agora e até ver limitadas ao reduto presidencial e já sem o suporte das Forças Armadas, reverter a situação e encontrar "as soluções que defendam o processo revolucionário bolivariano e as suas históricas conquistas". Não se compreende, aliás, a que conquistas se refere o PCP, se ao uso intensivo de fatos-de-treino, alguns de conceituadas marcas capitalistas, se à proliferação de filas e senhas de racionamento para acesso a bens de consumo essenciais - há dias numa reportagem televisiva uma cidadã queixava-se de há quatro meses não conseguir obter um pacote de leite - ou, ainda, se ao recurso ao nepotismo de Estado para garantir a ascensão social e a qualidade de vida dos "revolucionários" ligados ao poder chavista e madurista.

Não podendo a Venezuela mudar de povo, para grande desgosto do PCP, em especial depois da presidente do CNE (Consejo Nacional Electoral) ter saudado a demonstração de civismo e felicitado "al pueblo por la escogencia de sus representantes" e do ministro da Defesa ter afirmado que "[h]a sido un proceso impecable", a solidariedade que manifesta servirá de muito pouco para impedir o afastamento definitivo de Maduro e da sua gente.

Leva sempre tempo, mas mais uma vez se provou que o poder não está na ponta de uma espingarda. Ainda que contra a vontade do PCP, que ainda não se apercebeu de que os calendários não pararam em 8 de Novembro de 1989, a democracia continua a fazer o seu caminho. Nos próximos meses se saberá por que trilhos seguirá.

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