Elevação e desprendimento
(créditos: A Bola/IMAGO)
Quando há dias registei neste blogue o que pensava sobre os resultados das eleições legislativas de 18 de Maio p.p., alguns repararam, e houve mesmo quem comentasse, o facto de não me ter pronunciado quanto ao partido Iniciativa Liberal.
Pois bem, as razões sobre as quais não o fiz deu-as o presidente demissionário do IL quando no passado sábado apresentou a sua saída da liderança do partido.
Quando Rui Rocha foi reeleito, em 2 de Fevereiro, para a presidência do partido, logo manifestou como uma das metas que abraçou para o partido a de "crescer muito". E apesar de não ter então definido como se traduziria essa ambição em votos, percentagens e mandatos parlamentares, essa simples frase, entre pessoas sérias e intelectualmente honestas, não permite duas leituras.
Para poder ter uma palavra a dizer no futuro pós-eleitoral, convenhamos que crescer muito teria de ter uma expressão substancial em número de votos e de mandatos, tornando o IL numa força indispensável para qualquer solução governativa. isso não aconteceu.
No rescaldo eleitoral, verificou-se que o IL aumentou a sua votação percentual de 4,94% para 5,36%, o número de votos, passando de 319.685 para 338.664, e o número de deputados, acrescentando um aos oito que já possuía.
Num universo da direita portuguesa, onde ideologicamente está o partido, parece evidente que de todos foi o que menos cresceu – a AD e o Chega que tão criticados foram pelo IL ganharam, respectivamente, 157.537 e 268.045 votos, ou seja, 8 e 11 mandatos –, assim tornando ridículos aos olhos de qualquer observador os ganhos eleitorais da direcção de Rui Rocha.
O crescimento da IL foi um crescimento "poucochinho", e se seria difícil encaixar o seu resultado entre os derrotados, mais difícil ainda se afigurava colocar o partido entre os vencedores.
Dito isto, e sem prejuízo do presidente demissionário do IL ser um antigo autor desta casa e nem sempre ser fácil analisar politicamente o desempenho de quem esteve tão próximo e aqui conviveu e partilhou ideias durante algum tempo, gostaria de deixar uma nota de apreço ao Rui Rocha pela coerência, elevação e desprendimento de que deu provas durante o seu curto percurso enquanto líder do partido e na hora da saída.
O seu exemplo, certamente criticável em muitos outros aspectos, faz nesse ponto a diferença entre um trambiqueiro criado nas "jotas", sem qualificações nem profissão, um desses bandalhos desqualificados que vive da intrigalhada política e dos seus mexericos, e que sem ela e o partido não consegue um trabalho, nem sobrevive para pagar a renda de casa, o empréstimo ao banco ou se pavonear nos restaurantes da moda, e quem tem uma vida fora da política e está nela para se bater por valores, convicções e servir a causa pública.
Estou muito longe, e quase tudo me afasta, das ideias e do programa eleitoral do IL. Algumas vezes critiquei as suas ideias, a maioria das quais não partilho na esfera económica e estadual, as suas iniciativas ou a postura de alguns dos seus dirigentes, o que não invalida o reconhecimento da sua importância para o debate de ideias, o confronto de opiniões e o seu contributo para a construção e defesa de uma democracia séria. Nos princípios, nos valores e no comportamento dos dirigentes; em especial quanto à imagem pública destes, que ano após ano se vai degradando e enxovalhando aos olhos dos portugueses.
Sei que o Rui Rocha, bem ao invés de outros que logo na primeira oportunidade quebram o contrato eleitoral e dão à sola, irá cumprir o seu mandato de deputado, para que foi legitimamente eleito, procurando dignificar o parlamento, a democracia e a liberdade de que todos usufruímos.
Desejo-lhe por isso um excelente mandato e votos de sucesso nessa tarefa.