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Delito de Opinião

Eleições no PSD: cinco reflexões

Pedro Correia, 10.01.20

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Os militantes do PSD vão amanhã a votos. Houve uma indiferença geral na sociedade portuguesa perante esta campanha, o que constitui um mau indício para o maior partido da oposição, seja quem for que o lidere nos próximos dois anos. Desde logo pelo facto de ter decorrido com o Natal e o Ano Novo de permeio, o que revela pouco discernimento por parte de quem pensou e organizou o processo eleitoral. Não faz o menor sentido reservar precisamente a tradicional quadra festiva para andar na estrada a discutir política.

 

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Um dos motivos que geraram este desinteresse relacionou-se com a redução ao mínimo possível dos debates públicos entre os candidatos. Há dois anos, quando a competição interna foi a dois, Pedro Santana Lopes e Rui Rio participaram em três debates: dois televisivos (RTP e TVI), um radiofónico (Antena 1 e TSF). Agora, com mais competidores (Luís Montenegro, Miguel Pinto Luz e Rui Rio), houve apenas um, a 4 de Dezembro, para picar o ponto e cumprir os mínimos. Ainda por cima ocorrido a mais de um mês da ida às urnas e antes de qualquer deles ter tornado público o seu programa eleitoral.

 

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Incompreensível, também em comparação com o escrutínio anterior, é a drástica redução do universo eleitoral, que caiu quase para metade em dois anos. Na eleição directa de 2019, que Rio venceu por curta margem, havia mais de 70 mil militantes com direito a voto. Desta vez, cerca de 30 mil foram riscados dos cadernos eleitorais devido a uma imposição tão drástica e severa de procedimentos burocráticos que afugentou muito mais de metade dos supostos 106.328 inscritos. Na Madeira, que sempre foi uma das zonas de maior implantação do partido, só 104 dos 10.300 militantes estão aptos a votar à luz das novas regras.

 

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Em vez de se abrir à sociedade, como o PS fez em 2014 durante as primárias disputadas entre António Costa e António José Seguro, que atraíram cerca de 175 mil militantes e simpatizantes do partido às urnas, o PSD utiliza cada processo eleitoral interno como pretexto para se ir fechando em grau crescente, tornando-se num clube cada vez mais selecto e mais opaco. Erro lapidar: as eleições de âmbito nacional começam a perder-se assim.

 

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De todo inaceitável é que, na véspera da chamada dos escassos militantes às urnas, com três candidatos no terreno, para a página oficial do partido na internet só exista um. Rui Rio, presidente em funções, é omnipresente: tem direito a seis fotografias e ao protagonismo em quase todas as notícias. Montenegro e Pinto Luz, nem uma: é como se não existissem, perante a indiferença do Conselho de Jurisdição Nacional do partido, que se mantém alheado, como se nada disto lhe dissesse respeito. Nesta mesma página, surge em destaque uma citação de Francisco Sá Carneiro: «Em democracia, transparência é regra.» No actual contexto, só pode entender-se como um exercício de ironia.

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