Eleições Legislativas 24
Perguntaram-me ontem, domingo, "em quem vais votar?". Resmungo, balbucio, e culmino "depende da minha disposição do dia". "Como assim?", e vem até o espanto "não achas que o teu voto não deve depender da disposição?". Insisto, até recordando eleições passadas, "se acordar mal-disposto nem vou votar...". Colho risada, à qual se seguiu insistência, não procurando tutela mas opinião franca. Avanço então, até porque ali (só ali) a sinto minha responsabilidade: sim, Delenda est PS, esse coito de gente infecunda. Mas ali um pouco à sua direita o que há? Já há muito o disse, aquele Montenegro é um Jorge Silas da política..., sintoma da degenerescência do seu partido. E esta "nova AD" parece pungente: o cartoon de António no último "Expresso" - intitulado "ó tempo volta para trás", com o patético "líder" do inexistente "PPM" fadistando, acompanhado à viola e à guitarra pelo líder do defunto CDS e pelo tal Silas - nem letal é, apenas constatação. No Instagram o humorista Francisco Menezes é ainda mais contundente: "Acho bestial esta ideia da AD... É como ver o Belenenses outra vez a jogar na Primeira (Divisão) ... é como ligar a televisão e ver outra vez o Fialho Gouveia a comentar o Eusébio..." e, cúmulo, "se o meu Simca pegar eu faço-me à nacional .. e voto na AD". A sério, o que disse o PSD nos últimos anos de substantivo, e já nem falo dos outros pesos-mortos da tal "AD"? E nos tempos mais recentes, o que verdadeiramente relevante diz a direcção e os pensantes do PSD, que ultrapasse os origamis de Montenegro? E quem é a sua massa apoiante, entenda-se, que figuras da sociedade congregou o partido? Os miguelistas do PPM, a meia-dúzia de sobreviventes do CDS? Ou os colegas intermediários de negócios, peritos na articulação com as empresas públicas e as autarquias? Em suma, quem fala pelo PSD? E o que diz? Chegam-me lamentos que a imprensa não atenta nas acções do partido (ou da "coligação"...). Talvez. Mas e nos últimos anos?
Este meu resmungo esgotou a (curta) viagem de táxi. Segue-se uma fila, antecedendo a despedida. Essa faz que a minha disposição não seja a melhor, e sigo no resmungo com a IL, na qual votei, na qual votarei (se estiver bem-disposto no dia, já o disse). A qual se enrodilhou em questiúnculas internas, à qual parece faltar agora aquilo que se diz "elã", isso de falar mesmo com as gentes, o "povo". E cujo furibundismo ideológico poderia ter justificação como combustível de crescimento mas nunca serve para safar de tropeções autofágicos. Ok, é um partido "de quadros", dirá muito - nas últimas eleições gabavam-se de terem um longo programa -, mas que articulação haverá? Há dias fui ao "sítio" do partido, ainda não encontrei algo substantivo sobre o que aí vem. É para este putativo eleitor ficar com as declarações, praticamente uninominais, daquele partido? "Somos poucos" dirão. Mas também à esquerda os partidos o são... Quem fala pela IL, sobre as diferentes temáticas?
Enfim, despedida feita, regresso via metro, noite fria, a evitar o azedume. Neste dia seguinte levanto-me e leio, como sempre, o Record. O destaque é a chegada a Lisboa do popularíssimo treinador Jorge Jesus, actualmente emigrado na Arábia Saudita. Diz ele que "isto agora já não tem muito a ver com Portugal... isto já não é o meu Portugal, isto está diferente, está muito confuso ... falta de segurança, nota-se perfeitamente".
Sim, a gente pode dizer que "é o Jesus" - o qual é mais ouvido do que todos os comentadores políticos televisivos -, pode dizer que é "populismo", que é "falso". Ou mesmo pode dizer, com ironia, "quem fala pelo CHEGA?". E com que efeitos populares...? Mas também pode dizer que estas são problemáticas sentidas como prementes por largos sectores da população. E se "o povo é quem mais ordena" as suas preocupações, mesmo que parecendo infundadas, são temas que urge enfrentar. E, principalmente, nunca devem ser entendidas como "descabidas". Pois até são "europeias", e também por isso se reflectem aqui. De modo por agora exagerado. Mas real.
Ou seja, quem fala connosco? Os Escárias - que verão os seus processos anulados? Os "identitaristas" avessos às identidades nacionais se estas coincidentes com Estados? Os comunistas brejnevistas? Os intermediários de negócios? Os ideólogos, alguns deles encantados com as retóricas festivas? Ou os populistas - estes sendo aqueles que guturalizam sobre aquilo que os outros julgam despiciendo?
Vou ao Whatsapp e envio a mensagem: "sobre a conversa de ontem? Muito provavelmente votarei na IL. Apesar de tudo...". E que grande tudo tudo isto é.