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Delito de Opinião

Eleições gregas III

Luís Naves, 21.01.15

Se a Nova Democracia vencer as eleições na Grécia, haverá análises a lamentar a chantagem exercida sobre o eleitorado grego. Veremos títulos do género “A vitória do medo”, embora a melhor leitura seja a firme intenção da Grécia de permanecer na zona euro. Lendo muito do que é escrito, parece que os parceiros da Grécia não são democracias e os seus governos não respondem aos respectivos eleitorados.

O Syriza pode vencer as eleições, escolher o pragmatismo e renunciar às promessas eleitorais, aceitando o que já tem, mas em doses maiores, sobretudo maturidades mais longas para os créditos ou o não pagamento de juros sobre alguns dos empréstimos. A Grécia estava a reestruturar a dívida, como aliás Portugal está a fazer com êxito*. No entanto, se o Syriza vencer e se insistir nas promessas populistas, não será possível cumprir os termos do próximo resgate e a Grécia não receberá novo pacote de ajuda. Um governo de esquerda terá de falhar muitas promessas eleitorais. As taxas de juro estão acima de 10% e o único caminho alternativo é o da bancarrota, o que implica saída do euro, com hipotética nacionalização da banca, controlo de capitais, desvalorização abrupta e mais desemprego e sacrifício económico para a população. Na actual configuração da união monetária, a imagem que devemos usar é a dos alpinistas que sobem uma montanha seguros por uma corda. Se os últimos da corrente puserem os restantes em risco, a corda é cortada para evitar que todos caiam.

O euro tem um precedente histórico (enfim, com diferenças e semelhanças), a união monetária austro-húngara, que foi um extraordinário sucesso durante 50 anos, mas que obrigou o império a fazer cortes nos gastos militares antes da guerra de 1914, uma das razões da derrota, ou seja, o êxito esteve na origem da perdição ou, visto de outra forma, uma união monetária obriga a actualizar as ambições políticas dos seus membros, o que não aconteceu no caso austro-húngaro e não está a acontecer no caso de alguns países do euro. O fim da união, em 1918, foi uma calamidade para alguns dos envolvidos: a Hungria, por exemplo, teve a maior hiper-inflação da História. Por isso, como sugere o precedente, a saída do euro será péssima para os gregos, a reestruturação possível será insuficiente para o Syriza e o perdão de dívida parece impossível para os países credores, pois é inaceitável para a opinião pública do norte da Europa e acabaria com a credibilidade da moeda única. Onde estará o ponto de equilíbrio entre estes elementos? Estará algures, certamente, mas parece mais lúcido não testar os limites.

 

* Portugal está a financiar-se em todos os prazos e vai reembolsar os empréstimos do FMI, livrando-se da troika. Os analistas diziam que era impossível. 

3 comentários

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    Luís Naves 21.01.2015

    Está mal informado. O que Portugal anda a fazer é uma reestruturação progressiva da dívida. Sem as operações que estão a ser feitas discretamente desde 2013, Portugal pagava juros muito mais altos. Neste caso, os empréstimos do FMI são os mais dispendiosos.
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    Luís Lavoura 22.01.2015

    Se eu estou mal informado, então por favor informe-me de outros casos de reestruturação portuguesa, ou seja, de casos em que a República tenha pagado antecipadamente obrigações ou títulos do tesouro.
    Que eu tenha visto referido nas notícias, o único caso foi o das obrigações que venceram em outubro do ano passado.
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